Ao chegar a Gutersloh, somos imediatamente transportados para um canto de Portugal. As três letras "APG" marcadas em cores da bandeira portuguesa indicam a presença da Associação Portuguesa de Gutersloh, um local de culto, tradições, convívio e união com a pátria.
«Nem era preciso essa marca de água pois rapidamente somos transportados para qualquer local nacional. Os cheiros, as gargalhadas, as cores. Sabemos que estamos a chegar ao cantinho mais português deste Europeu,» descreve o relato.
Uma Comunidade Portuguesa Ativa e Envolvida
Com 150 associados, a APG conta com a presença de alguns alemães, espanhóis, ingleses e polacos, mas a dificuldade em atrair as novas gerações é evidente. «Os mais velhos vão saindo e os mais novos não querem. Tenho três filhos e para os trazer aqui é muito complicado. Andei a pagar as quotas deles durante anos até desistir,» lamenta Jorge Figueiredo, um dos braços direitos do presidente recém eleito Júlio Romano.
Apesar das dificuldades, a APG mantém viva a tradição e o convívio, com torneios de cartas, matraquilhos e malha. As mulheres da associação, como Manuela e Maria de Lurdes, tratam da culinária, preparando especialidades como filetes de sardinha, com «amor e carinho».
Memórias Indeléveis do Mundial 2006
A associação esteve presente como a principal coletividade lusa durante o Mundial de 2006, deixando memórias indeléveis. Dentro da sede, uma sala está mais protegida, como uma «peça preciosa», exibindo diversos adereços relativos àquela receção, como uma camisola autografada por todos os jogadores, cartas de Luís Figo, um quadro com Luiz Felipe Scolari, duas bolas de jogo e até um chapéu de um polícia dessa altura. «Um local de culto que todos nos fazem questão de mostrar. Com uma tristeza por serem momentos que muito dificilmente se irão repetir em 2024,» lamenta Figueiredo.
Frustração com o Euro 2024
As esperanças de repetir tais momentos durante o Euro 2024 foram frustradas. «O nosso rancho folclórico das Lavradeiras não pôde atuar porque a UEFA não permitiu. Por tudo o que aconteceu no estádio, naquele treino, as invasões que houve, digo que não. Se tivessem lá 1000 portugueses foi o máximo. Denegriram a imagem portuguesa. Já imaginaram se um daqueles invasores chegasse ao lado do Cristiano como uma faca? Como era?» questiona Figueiredo, com preocupação.
Festa de São João: Todos Bem-Vindos
Apesar das dificuldades, a APG mantém viva a chama da portugalidade em Gutersloh, preparando-se para a festa de São João na próxima terça-feira, à qual todos estão convidados a participar. «Escreva aí que quem quiser pode aparecer. Será bem recebido. Sem distinções. Como se do Cristiano Ronaldo se tratasse,» despede-se Júlio Romano, presidente da associação.