Desde o seu regresso ao Benfica, Bruno Lage tem revelado alguns equívocos em pormenores que, analisados superficialmente, podem passar despercebidos ou de menor significado, mas que merecem um olhar mais profundo e cuidado.
O simples facto de ter cumprimentado todos os jornalistas na primeira conferência de imprensa após a sua confirmação como sucessor de Roger Schmidt quis mostrar simpatia, quis revelar respeito e memória por aqueles — e terão sido muitos — que o acompanharam na primeira passagem pelo clube da Luz (que, apesar de tudo, rendeu um título nacional aos encarnados). Mas, do ponto de vista da comunicação externa, transmitiu uma sensação exatamente contrária à que (sempre pensei e continuo a pensar) deve nortear a relação entre agentes dos media e protagonistas do futebol profissional: distanciamento quanto-baste, pouca familiaridade e quase nenhuma intimidade ou amizade pessoal.
A derrota europeia do Benfica
Subitamente, tudo se quebrou num final de tarde de quarta-feira, na cidade que ainda vive e respira os resquícios da maravilhosa Oktoberfest. Frente a um Bayern longe de ser a locomotiva ofensiva, jogando em plena posse e progressão a um ritmo alucinante como aconteceu, por exemplo, nos não tão longínquos tempos de Jupp Heynckes, a equipa portuguesa confirmou uma espécie de síndrome de pequenez que surpreendeu adversários diretos (João Palhinha, por exemplo, foi muito sincero após o jogo), e até, pela postura tática defensiva, jogando baixo e muito abaixo das possibilidades, mostrando a todos os que gostam de futebol o pior Benfica da época (bem abaixo, por exemplo, do que perdeu em Famalicão por 2-0…), também deixou estupefactos os próprios jogadores do plantel da Luz.
Será este o Benfica de Lage, o treinador que, porque ia defrontar o Bayern na Baviera, mudou o sistema e trancou um autocarro de dois pisos, com atrelado e tudo, à frente da baliza de Trubin? Será lógico, do ponto de vista da gestão de balneário, mudar tudo para um jogo da Champions League que qualquer jogador gostaria de protagonizar com alguma liberdade, com mobilidade, com carisma?
O Porto em Roma
Não é do resultado final que se trata. É do resultado global, da pequenez contida na ideia de jogo e na tática apresentada, no começar a perder o jogo com a ideia, na mensagem que fica para os adeptos do futebol e, acredito, essencialmente para os adeptos do Benfica.
Sabendo que o futebol é o momento e que a derrota de hoje é de curta memória se sucedida pela vitória de amanhã, não é menos verdade que Lage é o principal responsável, mesmo que o inadvertido soundbite de Ricardo Lemos o tenha deixado atordoado…
A Geopolítica no Futebol
O ignóbil ataque de que foram vítimas os adeptos do Maccabi Telavive, na noite de quinta-feira, após o jogo de Amesterdão com o Ajax, é a prova cabal de que o futebol e as suas franjas podem sofrer muito com a geopolítica mundial, com a imprevidência do excesso de declarações públicas, com a tendência para a generalização do discurso e da sua radicalização.
Aspetos Críticos
Por outro lado, a forma como o FC Porto sofreu os dois golos em Roma demonstra uma falta de concentração letal a um nível competitivo europeu ou mundial. E não vale a pena Vítor Bruno enfatizar os méritos da exibição portista frente à Lazio (que, de facto, foram alguns), sem um discurso duro entre portas para momentos inaceitáveis como os que os azuis e brancos viveram no estádio Olímpico.