Nuno Catarino: "Benfica tem coragem e quer novos rumos para o futebol português"

  1. Benfica almeja receita de 500 milhões de euros.
  2. Benfica não está pressionado para vender jogadores.
  3. Nuno Catarino defende valorização do futebol português.
  4. Benfica indisponível para ceder às convocações da Seleção Nacional até haver mudanças.

Nuno Catarino, administrador financeiro do Benfica, abordou temas cruciais para o futuro do clube e do futebol português durante a 3.ª conferência Bola Branca, promovida pela Rádio Renascença. Desde a relação com as instituições do futebol à centralização dos direitos televisivos, passando pela ambição de atingir os 500 milhões de euros em receita, o dirigente encarnado não deixou de apontar caminhos e expressar descontentamentos.

As declarações de Catarino oferecem uma visão abrangente sobre a estratégia do Benfica e os desafios que o futebol português enfrenta. O administrador financeiro não hesitou em criticar a postura de algumas instituições e defendeu a necessidade de coragem e inovação para valorizar o produto futebolístico nacional.

Relação com a Seleção Nacional

Questionado sobre o recente comunicado do Benfica, que expressa indisponibilidade para ceder às convocações da Seleção Nacional, Nuno Catarino esclareceu: “Não fechamos as portas à Seleção Nacional, os nossos jogadores continuam a ir à Seleção. Entendemos que merecemos mais respeito das instituições que tutelam o futebol nacional, é com essas instituições que temos de interagir. E fomos bastante precisos na linguagem, e é por isso que as coisas às vezes levam tempo a sair, é preciso ser bastante precisos. Neste momento mostrámos indisponibilidade para receber…”

Questionado sobre até quando o Benfica irá esperar por mudanças, Catarino respondeu: “Vamos esperar até que haja algumas mudanças.”

A Coragem do Benfica

Nuno Catarino expressou a necessidade de coragem nas decisões do futebol português, afirmando: “Se é preciso coragem, nós temos coragem no Benfica, não sei se há de outros lados.”

Esta declaração surge num contexto de debate sobre a necessidade de reformas e inovações no futebol português.

Atingir os 500 Milhões de Euros em Receita

Um dos objetivos ambiciosos do Benfica é atingir uma receita de 500 milhões de euros. Catarino explicou: “Para o projeto do Benfica, e para o desporto nacional, tem de passar por um projeto de crescimento. Temos desafios de receita claros face à dimensão do mercado português, mas acreditamos que temos um bom produto, temos um estádio grande, muita procura pelo nosso produto. Estamos a fazer a expansão do estádio em mais 5 mil lugares, temos outras novidades que vão ser implementadas nos próximos anos. Chegar aos 500 milhões tem várias lógicas e a substância por trás. Primeiro, é hoje basicamente o número que acreditamos que vão ter os clubes entre o décimo e o 20.º lugar na Europa, e para sermos competitivos e conseguirmos resultados ainda melhores temos de ter base substantiva nessa dimensão. Temos um plano para crescer substancialmente as receitas correntes e de operação, para reduzir a dependência estrutural do futebol português da venda de jogadores, e é igual para todos os clubes. Temos de ganhar capacidade para reter mais tempo os nossos jogadores.”

O administrador financeiro do Benfica sublinhou a importância de reduzir a dependência da venda de jogadores e aumentar as receitas de outras fontes.

Mercado de Transferências

No que toca ao mercado de transferências, o administrador financeiro garantiu: “O Benfica não está vendedor nesta altura, não está pressionado para vender.” E acrescentou: “Temos de fazer sempre alguns ajustes de plantel, mas são os pequenos ajustes que terão de fazer-se.”

Estas declarações visam tranquilizar os adeptos sobre a estabilidade financeira do clube e a manutenção de um plantel competitivo.

Regressos e Continuidade do Treinador

Questionado sobre possíveis regressos de antigos jogadores e a continuidade do treinador, Catarino desviou a responsabilidade: “Não fomos nós que falámos, certamente. Passamos mais tempo a discutir o que está fora do relvado do que aquilo que está dentro. Não é o meu pelouro…” E sobre o treinador, rematou: “Também não é o meu pelouro, mas fomos bastante claros recentemente sobre isso.”

Catarino evitou comentar diretamente sobre estes temas, remetendo para outras instâncias do clube.

Mundial de Clubes

O Mundial de Clubes foi também tema de conversa, com Catarino a destacar a sua importância para a projeção do clube: “Temos o Mundial de Clubes que começa daqui a duas semanas. O foco tem de estar essencialmente na preparação da época. Vai ser uma época bastante atípica também por isso em particular para os clubes que vão estar no Mundial de Clubes. Os jogadores vão para as seleções, voltam e vão para Miami. Temos uma competição importantíssima para o futebol português. Temos de ter a noção que na Europa o máximo de clubes que havia por país eram dois. Temos de saber valorizar isso, é uma competição que vai projetar o futebol português e particularmente o Benfica num mercado importantíssimo como o mercado dos Estados Unidos. É de certeza o mercado que pode ter mais crescimento e onde o Benfica já tem parcerias para ajudar-nos a chegar ao plano dos 500 milhões. Temos uma época para terminar, haverá eleições no Benfica, e os estatutos definem quando é que devem acontecer e quando deve haver campanha. Decorrerá tudo com a normalidade devida. Agora o foco é a preparação e o plano dos 500 milhões. Não sei o que os benfiquistas pensam, mas este tem de ser o caminho do Benfica, um Benfica europeu e nunca mais pequeno.”

O administrador financeiro realçou a importância da competição para a projeção internacional do Benfica, especialmente no mercado dos Estados Unidos.

Centralização dos Direitos Televisivos

Sobre a centralização dos direitos televisivos, Nuno Catarino defendeu uma valorização prévia do produto: “Queremos trabalhar para a valorização do futebol português como um todo. O objetivo principal é valorizar o Benfica, mas valorizar o Benfica implica valorizar o futebol português. Queremos um melhor espetáculo, que as pessoas queiram ver pela justeza dos resultados, o mérito conta bastante. E queremos fazer a promoção produto, mas sem darmos um passo atrás, e temos de fazer uma reflexão sobre vários elementos essenciais, não apenas o tema da videoarbitragem, mas também os quadros competitivos. Temos de pensar se ao darmos um passo em frente não estamos a dar um passo para o precipício. Temos de dar um passo atrás, refletir sobre como tornar o produto melhor e depois dar dois passos em frente.”

Catarino defendeu que a valorização do futebol português deve ser o foco principal, antes de se discutir a centralização dos direitos televisivos.

Princípios Básicos da Centralização

Catarino prosseguiu: “Sempre estabelecemos princípios básicos que me parecem razoáveis. O Benfica tem as condições comerciais que tem e que construiu. Correu riscos que mais nenhum clube correu na altura, a criação de um canal de subscrição, e tem investimentos de monta feitos nesta área. Estamos disponíveis para participar num projeto de valorização do futebol português e que crie valor, mas que comece no valor que o Benfica tem hoje e vai ter no futuro. A partir daí, se for para melhorar e distribuir melhor por todos, muito bem. Mas temos de começar pelo valor que os clubes têm hoje em dia.”

O administrador financeiro defendeu que qualquer modelo de centralização deve ter em conta o valor atual do Benfica, fruto dos seus investimentos e riscos.

Distribuição de Valores

Catarino abordou ainda a questão da distribuição de valores: “Vamos mercado a mercado. Cada mercado tem as suas regras de distribuição, com base no passado e nos diferentes mercados. A forma como se distribui é talvez o menos importante. Passamos demasiado tempo a pensar como é que vamos distribuir coisas que ainda nem sequer criámos. Temos de criar primeiro um produto melhor, há condições para isso. Os nossos jovens têm um talento nato para jogar futebol, e em boa verdade beneficiamos do facto de o resto do desporto não ser tão forte como em outros mercados. Mas devemos pensar como é que vamos criar o produto melhor. Isso vai ser melhor para todos. Temos alguns exemplos, as apostas desportivas começou tudo ao contrário. Era para o dinheiro ser investido em infraestruturas, mas o único investimento em infraestruturas que vemos em Portugal é feito por poucos clubes. Quando o Benfica vai jogar fora, não encontra estádios e balneários em condições. Podemos perguntar para onde vai esse dinheiro? Já é pouco, mas para onde vai esse dinheiro? Quando construímos uma casa, começamos pelas fundações e não pelo telhado. Se começamos pelo telhado podemos não encontrar o chão. O nosso alerta é que temos de encontrar um chão.”

O administrador financeiro defendeu que a prioridade deve ser a criação de um produto futebolístico de qualidade, antes de se discutir a distribuição de valores.

Nova Liderança da Liga

O administrador financeiro também comentou sobre a nova liderança da Liga: “Temos uma nova liderança da Liga, que tem de ter o seu tempo. O nosso alerta é que temos de ter um passo na valorização do produto. A partir daí deve construir-se. Agora, sem fundações…”

Catarino manifestou esperança na nova liderança da Liga, mas alertou para a necessidade de valorizar o produto futebolístico.

Valor do Futebol Português

Questionado sobre o valor do futebol português, Catarino respondeu: “Trabalhei 25 anos como consultor de negócios e há uma regra básica: as coisas valem o que as pessoas pagam por elas.” E acrescentou: “Podemos ir longe nesse número e podemos não ir.”

O administrador financeiro sublinhou que o valor do futebol português é determinado pelo que os investidores estão dispostos a pagar.

Discussões sobre a Centralização

Sobre as discussões sobre a centralização, foi claro: “É possível, é desejável, vai requerer inovação a nível do produto, coragem e determinação, o que não tem acontecido. Recordo que o Benfica, na altura em que se criou a BTV, foi buscar os direitos da liga inglesa, com a Benfica TV1 e Benfica TV2. Foi criado um projeto em que toda a gente dizia que era uma loucura e que não iria funcionar, mas o que é certo é que funcionou. Se não tivermos o arrojo de pensar diferente e só discutirmos chaves de distribuição de uma coisa que não está criada vai correr inevitavelmente mal. O Benfica não está muito disposto para contribuir para discussões estéreis.”

Catarino defendeu a necessidade de inovação e coragem nas discussões sobre a centralização dos direitos televisivos.

Futuro da BTV

Em relação ao futuro da BTV face à centralização, Catarino afirmou: “Não sei. Porquê?” E prosseguiu: “O nosso projeto de comunicação tem de ser reformulado e teremos desenvolvimento no futuro nesse sentido. Temos muitas ideias sobre isso, mas a reformulação é inevitável, e estaremos cá para evoluir, mas não descarto nada. Porquê? Se for o que melhor valoriza o produto… Se fizermos uma lista dos 20 jogos mais vistos em Portugal da Liga, 17 são do Benfica. E são 17 porque só há 17 jogos. Temos de colocar isto em valor. É a realidade, mas tem de ser valorizado e visto pelo valor que traz.”

O administrador financeiro admitiu que o futuro da BTV está em aberto, dependendo da valorização do produto futebolístico.

Mensagem sobre o Futuro do Futebol Português

Por fim, Catarino deixou uma mensagem sobre o futuro do futebol português: “Não sei se é essa a pergunta que eu faria, mas acreditamos muito no futebol português, não queremos que seja periférico, o objetivo não é termos uma liga equivalente à do Chipre ou Grécia, queremos um futebol que se projete muito além. Com esse objetivo em mente, o Benfica, como maior instituição do futebol português, sempre teve visão institucional, valorizar o produto e promover consensos, tentar que todos caminhemos para a valorização do espetáculo e de um produto que queremos comercializar melhor e colocar no topo do futebol europeu. A grande questão, e é a natureza do comunicado, é que nem todas as instituições estão preparadas e há quem não queira avançar para melhorar o produto nacional. E é daí que vem o pedido no comunicado que fizemos ontem. Queremos claramente novos rumos para o futebol português, é esse o nosso princípio e a nossa forma de estar, mas tem de haver alterações. Não devíamos perder muito tempo com o comunicado, que foi pensado e ponderado e que fala por si é que temos de avançar para novos rumos se queremos produto melhor.”

Catarino apelou a uma visão ambiciosa para o futuro do futebol português, com o Benfica a assumir um papel de liderança na valorização do produto.