Ameaças inaceitáveis
Ángel Di María, extremo do Benfica, confirmou que recusou voltar ao Rosario Central, clube da sua formação, devido a questões de segurança. Após assegurar a continuidade no Benfica por mais uma temporada, o internacional argentino descreveu ameaças "que ultrapassaram todos os limites".
Tinha tudo preparado para regressar, mas as ameaças ultrapassaram todos os limites, afirmou Di María, em conversa com o canal Rosário 3. Deixaram uma caixa com uma cabeça de porco e uma bala na testa, com um bilhete que dizia que, se eu voltasse, a próxima cabeça seria a da minha filha Pía, descreveu, visivelmente emocionado.
Ataque à estação de serviço
O campeão do Mundo detalhou que esta ameaça aconteceu na imobiliária da sua irmã. Não foi tornado público porque a minha irmã e o meu cunhado ficaram com medo e não denunciaram, disse, deixando claro: A decisão de não voltar ao Rosário Central foi tomada por mim após a primeira ameaça.
As ameaças não ficaram por aí. Houve o bilhete na zona onde vivem os pais e o ataque à estação de serviço, onde foram disparados tiros. Qualquer empregado ou pessoa que lá estivesse na altura podia ter morrido ali, foi uma loucura. Acho que havia demasiadas coisas para tomar esta decisão, não eram apenas pequenos pedaços de papel, havia tiros e coisas sérias.
Sonho adiado
Di María levou essas ameaças a sério. Não foi algo financeiro ou desportivo, foi mais do que isso, foram ameaças à minha família que ultrapassaram tudo. Só o facto de ver o nome da minha filha num cartaz e de, numa caixa, terem enviado o que enviaram, foi mais do que qualquer coisa que eu pudesse fazer. Foram meses horríveis. Onde só pensámos e chorámos todas as noites por não conseguirmos realizar o sonho.
O extremo queria voltar ao clube de onde saiu em 2007, rumo ao Benfica, e este era o momento ideal. O que eu sempre quis e o meu sonho de vida é voltar a jogar no Central e retirar-me com essa camisola. É óbvio que vou continuar a dizer isso sempre que me perguntarem, porque é o que sinto e o que sempre sonhei. Era o momento certo depois de despedir-me da seleção nacional, mas não aconteceu, diz, assegurando que tinha tudo pronto para o regresso à Argentina.
Família em primeiro lugar
Elas [mulher e filhas] foram as primeiros a quererem vir. A minha mulher esteve totalmente envolvida o ano todo para terminar de mobilar a casa, para fazer tudo que envolve mudança, e tinha matriculado as meninas na escola. Cuidou de tudo para que eu não fizesse nada e as meninas contavam os dias para vir morar com os avós. Nós os quatro fomos os que mais sofremos, porque antes era o sonho de qualquer torcedor, era o meu, o meu sonho, o da minha família, disse.
O jogador, de 36 anos, rebate as críticas de não voltar. Muitos compreenderam a decisão que tomei, que foi pela minha família, não só as minhas filhas e a minha mulher, mas também os meus pais e as minhas irmãs, porque vivem lá. Aqueles que não entendem é porque não se colocam no meu lugar por um segundo, porque é fácil reclamar e abusar nas redes sociais sem se colocar no lugar do outro. Não se esqueçam que antes do sonho de todos eles, era e é o meu sonho e o da minha família regressar a Rosário.
Apoio da família
No dia em que celebra o 13.º aniversário de casamento com Jorgelina Cardoso, Di María acrescenta: Sempre tomei as decisões sobre futebol com o apoio da minha família. Qualquer pessoa que tenha uma família compreende-me. E ela disse-me desde o primeiro dia que faria tudo o que eu decidisse, o que eu quisesse e sentisse, desde que eu fizesse o que sentia, mas não podia obrigá-los a realizar o meu sonho de voltar. Não podia com a minha cabeça, sabendo que estou a treinar e as minhas filhas na escola ou a minha mulher num super sozinha. É muito fácil falar de fora e criticar sem saber, nós não queremos uma vida sob custódia, gostaríamos, mas não é o que queremos viver.
Decisão irrevogável
Di María também se dirigiu aos adeptos que não percebem a decisão de não regressar. Não se colocam no meu lugar por um segundo, diz o jogador, que ainda defendeu a esposa Jorgelina. Ela disse-me, desde o primeiro dia, que faria o que eu decidisse, quisesse e sentisse, desde que fizesse o que mais queria, mas eu não consegui realizar-lhes o sonho de voltarem.
O argentino também recusou que só queria jogar seis meses, até ao final de 2024, e assume que, desde que disse 'não' ao Rosario Central pela primeira vez, não voltou mais atrás com a palavra. A decisão já estava tomada. É óbvio que o clube tentou convencer-me, mas não se tratava de algo económico ou desportivo, eram ameaças à minha família, que superaram qualquer outra coisa. Foram meses horríveis, em que só pensámos e chorámos todas as noites por não conseguirmos realizar o sonho, assume.
Críticas ao governo
Di María deixou ainda críticas a quem lhe disse que a «insegurança» era uma desculpa para continuar a carreira na Europa, algo que o jogador do Benfica descreveu como «embaraçoso», e ainda aproveitou para atacar o governo de Santa Fé, que, diz o criativo, não consegue garantir a segurança da população: Quando houve ameaças, paguei do meu bolso a segurança das minhas irmas e da minha família. Como posso pedir segurança quando há tantos momentos inseguros em Rosario?! Como peço isso quando morrem pessoas de Rosario e é como se nada tivesse acontecido?! É desrespeitador falar sobre segurança para mim quando o povo de Rosario não pode sair para trabalhar, esperar pelo autocarro sem ser roubado, é morto por causa de uma mochila. Como vou eu pedir isso? Apesar de tudo isto, sempre optei por voltar! Quando disse que não voltaria, foi só por causa das ameaças pessoais, não da insegurança de Rosario.