Desde que, em fevereiro, Diogo Ribeiro se sagrou, por duas vezes campeão do Mundo em Doha, nos 50 e 100 mariposa, que se ouve comentadores na televisão a dizer que Portugal vai ganhar, pela primeira vez, uma medalha na natação nos Jogos Olímpicos de Paris-2024. Uma atenção que antes não estava lá.
Mas, apesar deste novo foco no jovem nadador do Benfica, muitos ainda não compreendem verdadeiramente a realidade da modalidade. A natação rege-se por tempos que cada atleta tem capacidade de alcançar, numa luta constante para se superar a si mesmo antes de ter de bater os adversários mais próximos. Um sistema diferente do futebol, por exemplo, onde a bola precisa de entrar na baliza.
Objetivos realistas
Diogo Ribeiro e o seu treinador, Alberto Silva, têm sido claros desde o início: o objetivo é chegar à final e melhorar o recorde. «E depois, logo se vê o que pode acontecer se conseguir integrar o lote dos oito melhores que disputarão as medalhas. E aí sim, tudo pode acontecer, como em Doha», explica Ribeiro.
O nadador do Benfica, aliás, só gosta mesmo de falar em medalhas quando se refere aos Jogos de Los Angeles-2028. «A ambição de vencer e voar na piscina faz parte do seu ADN. Não é uma coisa que lhe apareceu nos últimos três anos, mas algo que vive dentre dele e o alimenta diariamente os treinos, o obriga a ir aperfeiçoando todos os detalhes técnicos», diz quem o conhece.
Realidade dos números
Diogo Ribeiro sabe bem a realidade dos números e o tempo que, ao nível a que chegou, necessita para ir retirando milésimos aos recordes. «Agora, nunca, até porque isso iria contra a natureza de um vencedor, o irão ouvir a diminuir-se em relação àquilo que ambiciona, mas também não insistam e queiram que diga o que não sabe se é possível.»
O recorde nacional que conseguiu no Mundial de Doha, 51,17s, e lhe deu o ouro, na final dos 100 mariposa nos Jogos de Tóquio, há três anos, o deixaria no 8.º lugar, atrás do guatemalteco Josif Miladinov (51.09) e numa prova ganha com recorde mundial pelo americano Caeleb Dressel (49,95). «Há três anos! Significa que, desde então, os outros também terão evoluído ou alguns surgido.»
Exigência e pressão
Neste momento, entre os 40 apurados para a distância na capital francesa, Diogo surge com o 15.º melhor tempo de inscrição. «Todos acreditamos que o conimbricense já terá capacidade para fazer melhor que o máximo luso, mas, pelo meio, e ainda antes de poder ser o segundo português finalista nuns Jogos depois de Alexandre Yokochi em Los Angeles-1984, aos 200 bruços, há eliminatórias e meias-finais. E logo aí tudo já terá de estar próximo da perfeição porque os adversários também esperam que aconteça com eles.»
Face a esta realidade, o autor aconselha: «Não pressionem. Deixem-no nadar, mas não estejam à espera de cobrar algo que nunca disse que realizaria — ainda que na sua mente queira ser o melhor —, porque ele irá transporta-nos no seu sonho.»