Regresso do campeão mundial

Ángel Di María irá continuar a espalhar a sua magia nos relvados lusitanos por, pelo menos, mais uma temporada. Após uma época onde conquistou, apenas, uma Supertaça, numa campanha pouco feliz do Benfica, El Fideo irá querer certamente ajudar a mudar o rumo do barco.

Esta renovação, para além da clara vertente benéfica para as águias, também tem trazido algumas preocupações à massa associativa do emblema da Luz. O zerozero esteve à conversa com José Shaffer, jogador que partilhou o balneário com o respetivo campeão mundial, de forma a tentar compreender como será esta continuação de ciclo.

Ídolo dos adeptos

«Fui muito feliz no Benfica. Sempre que publico uma foto nas minhas redes sociais, os benfiquistas vão sempre comentar coisas positivas. Significa que fiz algo positivo durante o tempo que estive lá», afirmou Shaffer, manifestando o apreço que tem pelo clube.

O argentino chegou a Lisboa com 24 anos, proveniente do Racing Club. Rapidamente se deu conta do ambiente familiar, parecido com o da sua terra natal. Normal. Olhou para a direita e viu Pablo Aimar, olhou para a esquerda e encontrou Javier Saviola. No entanto, nesse mesmo núcleo, estava presente outro elemento, um vulto bastante jovem. Um tal de Ángel Di María.

A admiração de Shaffer

Apesar de só ter atuado por meia época nos encarnados, a relação com El Fideo suplantou o lado desportivo, com o defesa a rasgar-se em elogios quando fala sobre a personalidade do compatriota: «É uma pessoa muito boa. Na altura, chegava ao balneário com um comportamento contagiante e com vontade de crescer. Notava-se que queria chegar aos patamares mais altos.»

A admiração pelo camisola '11' é algo bem notório no seu discurso. No entanto, o lateral lembrou que nessa fase primária da carreira, o atleta oriundo de Rosário ainda estava a dar os seus primeiros passos rumo à glória: «Estava num claro processo de crescimento. Jogadores como o Nuno Gomes, o Aimar, o Saviola ou o Luisão foram importantíssimos no seu desenvolvimento, porque eram muito atenciosos. Fizeram com que ele se sentisse confortável a jogar futebol. Foi algo fundamental.»

O adeus à seleção argentina

'Di María' e 'seleção argentina' é sinónimo de uma bonita relação de amor. No entanto, para desalento da comunidade, o último capítulo foi redigido na passada segunda-feira, com a conquista da Copa América. Desta forma, o delantero saiu pela porta grande, num adeus que faz jus à sua recheada história pela albiceleste.

«Para todos os argentinos, perceber que, futuramente, o Di María já não vai fazer parte da seleção é um golpe bastante duro. Nós sempre depositamos muitas esperanças nele. Eu, que fui um privilegiado por ter tido a chance de o conhecer melhor, também sinto muita tristeza, porque sei que ele ama isto. Ele sempre deu tudo o que tinha pelo país», afirmou o esquerdino.

A relação Di María-Rui Costa

Para Shaffer, o prolongamento do vínculo entre o «melhor jogador com quem jogou» e a formação lisboeta é algo natural, sobretudo quando contemplamos a relação próxima entre o craque e o atual presidente: «O Rui Costa sempre adorou o Di María. É como um filho para ele. Como tal, sempre cuidou dele de uma forma bastante especial. Conhece-o melhor que ninguém. Para além disso, a família dele é completamente fanática pelo Benfica [risos]. Tenho a certeza que ele quer continuar porque ama o clube.»

A qualidade decisiva de Di María

O ex-Victoriano Arenas, com passagens no futebol sueco e chileno, viveu intensamente vários momentos em que o protagonista foi determinante: desde o chapéu a Ederson, que sentenciou a conquista da Copa América 2021, à finalização certeira na final do Campeonato do Mundo, no Catar. Posto isto, José Shaffer acredita que este poder de decisão pode ser fulcral para as águias na próxima edição da Liga dos Campeões.

«Ele sempre foi muito regular, mantendo-se num nível muito alto nas fases em que as suas equipas mais necessitavam. Independentemente do jogo, ele tem sempre um pensamento muito positivo, sustentado na família, que sempre o apoiou em tudo. O Di María pensa sempre em grande e, como tal, destaca-se nos maiores palcos. É essa a sua maior força», salientou convictamente.

As limitações defensivas

Contudo, a última época de El Fideo foi marcada por muitos altos e baixos. Se numa primeira instância, o ex-Juventus chegou, viu e venceu, apontando um dos tentos que garantiu a vitória na Supertaça, posteriormente, o extremo ficou associado a uma debilidade tática. As suas limitações físicas impedem-no de ser uma peça ativa nas dinâmicas defensivas. Shaffer encara esta alegada problemática com outros olhos.

«O Di María sempre jogou da mesma forma. É um jogador talhado para o ataque. Nós, como defesas, temos que ser capazes de lidar com essa parte, de forma a lhe darmos liberdade para fazer magia. Temos que lhe passar a bola e deixá-lo à vontade para fazer o resto lá à frente, porque a qualquer altura pode resolver uma partida. Claro que os defesas querem que os avançados defendam um pouco mais, mas neste caso têm que perceber que se trata de um jogador diferenciado», realçou.

Novos argentinos no Benfica

Benjamín Rollheiser e Gianluca Prestianni. Nomes dos novos diamantes prontos a serem lapidados por Roger Schmidt. O antigo camisola '35' assegurou que o clube luso tem os condimentos necessários para potenciar os dois pupilos: «Têm tudo para brilhar. Os benfiquistas têm um grande carinho pelos argentinos. Nós [argentinos] adaptamo-nos sempre muito bem a esta enorme família. Jogar é sempre mais fácil quando existem adeptos que protegem os seus futebolistas.»

Muito se tem falado da eventual falta de oportunidades que poderão surgir para estas e outras jovens promessas do plantel. Porém, o entrevistado acredita que Di María nunca será um entrave nesta aposta. Aliás, o lateral entende que Angelito terá um papel crucial na afirmação dos respetivos talentos: «Ele lembra-se de como o trataram bem quando era apenas um miúdo. Sabe perfeitamente que é, agora, o jogador mais experiente e vai tentar de tudo para retirar o melhor dos meninos.»

O ADN argentino

No que diz respeito ao segredo que leva os sul-americanos a serem tão valorizados pela massa adepta benfiquista, Shaffer foi perentório: «Os argentinos são apaixonados pelo futebol. Queremos ganhar a todo o custo. Jogamos na rua e estamos habituados a adversidades. O Otamendi, por exemplo, traz esta energia em todos os duelos que disputa. É por isso que somos amados.»

A temporada transata ficou marcada pelos 17 golos e 13 assistências. Contudo, o excelente registo pessoal não se traduziu em sucesso coletivo. Mais um ano, mais uma oportunidade para guiar o clube do coração ao Caminho Dourado. Irá conseguir dar alegrias aos adeptos? Shaffer não tem dúvidas. Esperar para ver...