Rúben Amorim deixou o Sporting em grande forma para o Manchester United, com vitórias (ambas de recuperação) sobre o Manchester City e o SC Braga nos seus dois últimos jogos, tornando a herança ainda mais pesada sobre os ombros de João Pereira. O novo treinador dos Leões começa a trabalhar com a equipa esta quarta-feira e tem um presente envenenado nas mãos. Pelo menos para esta temporada. Se tudo correr bem, o mérito será provavelmente mais atribuído a Amorim do que ao novo treinador. Se algo correr mal, será fácil culpar João Pereira. Especialmente se ele estiver a dar uma «ajuda de mão», como disse na apresentação anteontem em algumas coisas que inevitavelmente vão mudar.
E ele tinha razão. Este ano o Sporting (o do ano passado também, mas este parece ainda mais impressionante) é uma máquina bem oleada. Mas em nenhum carro o óleo é eterno. Por mais bem oleado que possa estar num determinado momento, o óleo gasta-se e tem de ser substituído após algumas milhares de quilómetros.
Sporting não pode ficar imóvel no tempo e no espaço
Compreendo que alguns adeptos do Sporting fiquem arrepiados quando ouvem falar da «ajuda de mão» de João Pereira, e que pensem que o melhor é não fazer nada para não estragar, mas não fazer nada é na verdade estragar. Uma equipa não pode ficar imobilizada no tempo e no espaço. Se assim fosse, nem sequer precisaria de treinador.
O novo treinador dos Leões também afirmou que o «maior erro seria tentar imitar alguém», e esse alguém era, obviamente, Rúben Amorim. E é essa a outra justificação para pôr a «ajuda de mão». Não existem treinadores iguais, nem personalidades iguais. João Pereira poderia tentar copiar Rúben Amorim (e não tenho dúvidas de que vai tentar aproveitar grande parte do trabalho feito), mas não é Rúben Amorim. Portanto, tentar fazer as coisas da mesma maneira seria um enorme perigo - dificilmente seria convincente quando não acreditasse verdadeiramente que o que Rúben faria numa determinada situação era a melhor solução; os jogadores dificilmente aceitariam alguém que se apresentasse a tentar fazer o mesmo que uma pessoa com quem criaram uma ligação muito forte ao longo dos anos, mais de quatro, em alguns casos.
Sporting à imagem de João Pereira
Teremos, portanto, um Sporting à imagem de João Pereira. Não de imediato, claro, mas gradualmente irá emergir. Não acho que será muito diferente do de Rúben Amorim, pelo menos esta temporada. Melhor? Pior? Só o tempo o dirá.
Mudança inevitável
Percebo as preocupações dos adeptos do Sporting, mas a verdade é que uma equipa não pode ficar parada no tempo. João Pereira tem a responsabilidade de deixar a sua marca, ainda que inevitavelmente inspirada no trabalho de Rúben Amorim. Mudanças são inevitáveis, mas a esperança é que o Sporting continue a ser uma máquina bem oleada, mesmo com um novo comandante.