Lateral de grande disponibilidade e projeção ofensiva, José António era peça indispensável no xadrez de Carlos Carvalhal e ajudou a desmontar o Braga de Manuel Cajuda no 1.º de Maio. O confronto no Minho para a Taça em 2002, que valeu o acesso ao Jamor, é um dos momentos mais marcantes da carreira do antigo jogador do Leixões.

Apesar de ter jogado uma final da Taça de Portugal, subido de divisão duas vezes e jogado na Taça UEFA, José António considera esse jogo contra o Braga como o mais especial da sua carreira. «É engraçado perguntar-me isso. No meu livro faço uma referência a esse jogo, porque, embora tenha jogado uma final da Taça de Portugal, tenha subido de divisão duas vezes e jogado na Taça UEFA, esse foi o jogo que mais me marcou na carreira. Saiu tudo como planeado, ou melhor, como o Carvalhal e a sua equipa técnica planearam.»

O plano perfeito de Carlos Carvalhal

José António elogia a capacidade de Carlos Carvalhal, naquela época treinador do Leixões, em estudar o adversário e preparar a equipa da melhor forma. «Ele, como sempre, estudou bem o adversário, mostrou-nos os seus pontos fracos, explicou-nos como os podíamos explorar e disse-nos o que eles iriam fazer em determinados momentos. Acertou em tudo, foi mesmo na mouche, parecia que aquele jogo já tinha acontecido, estávamos preparados para aquilo e, depois, foi também uma noite de inspiração para nós, realmente um jogo perfeito.»

«Inevitavelmente, as memórias saltam para esse feito, quando fomos a Braga vencer. A Taça de Portugal é pródiga em surpresas. Quando as equipas favoritas relaxam um pouquinho... Tem do outro lado uma equipa e jogadores que querem mostrar o seu valor e fazer história. Por isso, se o Braga facilitar um pouco ou tiver num dia mau e, do outro lado, encontrar um Leixões inspirado, é claro que é possível imitar-nos.»

A luta contra a Esclerose Lateral Amiotrófica

Nos últimos 20 anos, José António tem enfrentado o desafio da esclerose lateral amiotrófica (ELA). «Nestes 20 anos, tive imensos desafios e a cada dia que passa vão aparecendo outros tantos. Depois de me dizerem que viveria no máximo mais três ou quatro anos, penso que o maior desafio e a maior conquista foi renovar a minha mente a cada dia.»

Nos primeiros 18 meses após o diagnóstico, José António apenas sobreviveu, mas tudo mudou quando se aproximou de Deus. «Continuo a gostar de ver futebol, adoro um bom jogo, não dá para jogar mas dá para apoiar, sou um adepto normal, que vibra com as equipas de que gosto.As ondas de solidariedade e carinho são o reflexo daquilo que eu fui no passado com as pessoas. Nesta vida, afinal, tudo o que semeamos... Eu estou a colher agora a atenção e o carinho que dei , e isso é bom sinal.»

A ajuda de Carlos Carvalhal

Carlos Carvalhal, treinador do Leixões naquela época, é descrito por José António como «uma pessoa muito especial, é um amigo que queremos ter por perto, que nos faz bem. É positivo, tem um coração do tamanho do mundo e preocupa-se muito com o bem estar de todos.»

«Veio a minha casa, a minha mulher disse que eu devia escrever um livro porque eu era uma notícia boa, era diferente da maioria dos casos. Conclusão, falámos mais um pouco e ele antes de sair disse: 'Vou tratar disso, prepara-te! Em setembro do ano passado veio a minha casa, apresentou-me a Fabiana Couto para me ajudar e orientar no processo, e que era para começar a obra, porque já tínhamos o apoio do Dr. Fernando Gomes e da FPF'.»

A força da fé

José António afirma que o seu livro é o complemento de uma história de superação única. «Acima de tudo, este livro é para dizer a toda a gente que a última palavra é de Deus. Com ele nada é impossível! Um ano e meio após o diagnóstico, tive a felicidade de alguém me mostrar o que a Bíblia nos ensina. Foi o Camberra, que jogou comigo no Aves. Levou-me à igreja que ele frequentava (Igreja Maná) e aproximei-me de Deus. Comecei a ouvir a sua palavra e a minha vida mudou, a minha mente e a maneira de pensar mudaram, tudo isso contribui para superar muita coisa, já perdi a conta aos milagres.»

O Leixões, o seu grande amor

Apesar de a carreira de José António ter sido quase exclusiva no Leixões e ter sido encurtada aos 29 anos devido à ELA, ele afirma que saiu do futebol realizado. «O Leixões é o meu grande amor e os anos que lá passei foram uma dádiva. Ficar na história do futebol português ao serviço do meu clube de coração e, no ano seguinte, tirá-lo da II divisão B, sendo o capitão dessa equipa... faltam-me palavras para transmitir a alegria que senti.»

«Tinha muito mais para dar ao futebol e ninguém imagina terminar a carreira aos 29 anos. Mesmo assim, saí do futebol realizado. Tirei o meu Leixões da rua escura, joguei uma final da Taça, uma Supertaça, Taça UEFA, subi e joguei na I Liga. Aos 18 anos estive inserido nos trabalhos da Seleção no apuramento para o campeonato de Europa; infelizmente, não cheguei a ser internacional, mas fiquei realizado. Aconteceu-me a mim, mas a vida não pára, temos de levantar a cabeça, há muito para viver e conquistar.»