António Pacheco, o talentoso extremo que aos 21 anos jogou a primeira de duas finais da Taça dos Campeões Europeus pelo Benfica, faleceu aos 57 anos. Marcado pela saída conturbada da Luz no verão de 1993, Pacheco deixou uma memória indelével para aqueles que compartilharam o seu percurso.
Nascido em Portimão a 1 de dezembro de 1966, Pacheco iniciou a sua carreira no Torralta, onde rapidamente se destacou e chamou a atenção das seleções jovens. O seu percurso levou-o ao Portimonense antes de chegar ao Benfica, numa transferência repleta de humor e irreverência. «Já estava de férias, mas sabia que havia clubes interessados em mim. Tinha 20 anos, ia todos os dias para a praia e dei o número de um restaurante de amigos que frequentava, também na praia, a um dirigente do Benfica», recordou Pacheco. A sua chegada à Luz foi marcada por episódios peculiares, como a sua apresentação ao serviço no «Ferrari preto, de tejadilho verde», que gerou risos e surpresa.
O Período no Benfica
Durante os seis anos em que envergou a camisola encarnada, Pacheco construiu uma história notável, conquistando dois campeonatos nacionais, duas Taças de Portugal e participando em duas finais da Taça dos Campeões Europeus. Recordando a sua passagem pelo Benfica, o antigo companheiro Vítor Paneira descreveu Pacheco como «atrevido, esperto, divertido», destacando a sua personalidade única e o seu talento inegável. «Recordar o Pacheco é recordar uma boa pessoa, um bom atleta. Sempre amigo, com piada, sempre com um humor muito castiço, muito próprio», afirmou Paneira.
A Passagem pelo Sporting
Após a saída tumultuosa do Benfica em 1993, Pacheco rumou ao Sporting, onde começou como opção regular. No entanto, conflitos pessoais com o treinador Carlos Queiroz levaram-no a perder espaço na equipa, culminando numa passagem menos bem-sucedida pelo clube leonino. «Sair do Benfica foi uma má opção de carreira. Basta ver o meu percurso no Benfica e, depois, no Sporting», lamentou Pacheco, refletindo sobre os altos e baixos da sua trajetória pós-Luz.
O Legado de António Pacheco
Após o término da carreira como jogador, Pacheco dedicou-se aos negócios, com breves incursões na área de treinador no Atlético e no Portimonense. Mantendo-se próximo de antigos companheiros, como Paneira, Pacheco viveu com a mágoa da rejeição dos adeptos benfiquistas durante anos. No entanto, em 2018, participou numa campanha do clube para angariação de sócios, num gesto simbólico que marcou o seu regresso à «casa mãe». «Não quero tachos. Não me foi proposto pelo clube qualquer tipo de pagamento por este maravilhoso anúncio, apenas me pediram as despesas e eu recusei, o Benfica não tem de me pagar nada, vim porque gosto. Fiz esta campanha para fazer as pazes comigo próprio», afirmou Pacheco, num momento de reconciliação consigo mesmo e com o clube que o viu brilhar.
O Adeus a António Pacheco
O legado de António Pacheco perdurará não apenas pelos seus feitos em campo, mas também pela sua personalidade cativante e pelo impacto que deixou nos corações daqueles que com ele partilharam o relvado. A sua partida prematura deixa um vazio na comunidade futebolística portuguesa, mas as memórias e a admiração por este talentoso e irreverente jogador permanecerão vivas nos anais do desporto nacional.