A temporada do FC Porto ficou muito aquém do nível desejado, e figuras como o guarda-redes Cláudio Ramos e o ex-treinador adjunto Rui Quinta partilham as suas visões sobre os motivos do insucesso. Em entrevistas, ambos apontam falhas na estrutura e na gestão do clube como pontos chave para a época para esquecer.
Balanco desconsolado de Cláudio Ramos
Em entrevista ao jornal O JOGO, Cláudio Ramos admitiu a sua frustração com a época. “Todas as épocas que não acabam com a conquista do título são difíceis para todos e, especialmente, para nós, jogadores, que trabalhamos todos os dias para dar essas alegrias e títulos aos adeptos. Este, além de tudo, foi um ano de transição, mesmo em termos de plantel, e não foi por falta de vontade ou empenho que falhámos os objetivos. Fomos muito penalizados em cada erro que cometíamos. Lembro-me dos golos sofridos nos descontos de forma quase consecutiva que muitas vezes deitavam abaixo todo o excelente trabalho produzido durante esses jogos”, afirmou o guarda-redes.
O internacional português destacou a importância da autocrítica e o peso das derrotas para os rivais. “Foram dois momentos em que essencialmente senti o peso que uma derrota destas tem para os nossos adeptos. Qualquer derrota é pesada para o FC Porto, mas estas, com os rivais e da forma que foi, deixam-nos envergonhados”, confessou Cláudio Ramos, referindo-se, implicitamente, às derrotas frente ao Benfica.
Rui Quinta e a crítica à gestão
O ex-treinador adjunto Rui Quinta também não poupou críticas à direção do clube. Segundo ele, as trocas técnicas na gestão não trouxeram resultados positivos. “os factos mostram que a mudança não produziu efeito nem acrescentou rigorosamente nada ao desempenho da equipa que permitisse ter a ilusão de discutir alguns dos troféus que ainda estavam em jogo”, referiu Quinta, apontando para a troca de Vítor Bruno por Martín Anselmi.
Rui Quinta apelou a uma liderança com convicções, não apenas pela emoção. “percebo o entusiasmo, a paixão, a dedicação e a ligação umbilical ao clube, mas quem dirige tem de o fazer através das convicções e ideias. Não poderá dirigir pela onda, pela manada ou em função daquilo que parece”, aconselhou o ex-técnico.
A responsabilidade dos líderes
Quinta questiona a prioridade da liderança do clube. “Questiono-me muitas vezes se queres ter razão ou ser campeão. É a pergunta que deve nortear quem lidera. Por muita razão que possamos ter, quem joga são os futebolistas e quando eles não se sentem protegidos nem devidamente acompanhados, defendem-se, não dão o seu melhor”, salientou Rui Quinta, destacando a importância de um ambiente positivo e motivacional para os jogadores.
Falhas táticas e financeiras
Em relação à estrutura tática, Rui Quinta criticou a mudança para uma formação com três defesas centrais, implementada por Anselmi, considerando-a ineficaz. O ex-adjunto abordou também as dificuldades financeiras do clube. “O único impacto é que não entra receita, mas é uma oportunidade extraordinária para procurar outras soluções que, muitas vezes, o dinheiro nem permite pensar”, concluiu Quinta, defendendo a necessidade de soluções criativas para superar o atual momento.