Para conquistar o Brasil, pela via do Brasileirão, e a América do Sul, através da Taça dos Libertadores, o maior mérito de Artur Jorge, treinador do Botafogo e novo «rei do Rio de Janeiro», foi a sua rapidez de adaptação. Outros, no seu lugar, pediriam tempo para encaixar os mais de 20 reforços, além de um período de adaptação para se integrarem, eles próprios, num novo clube e numa nova cultura. O técnico bracarense, porém, num ápice, compreendeu a missão que lhe foi confiada. E cumpriu-a com distinção.
O dinheiro de John Textor
Sim, John Textor, proprietário da SAD (ou SAF, como se diz no Brasil) foi generoso ao contratar craques como Almada ou Luiz Henrique, num total de 40 milhões de euros investidos. Mas nem sempre – quase nunca? – um batalhão de contratações se acomoda suave e naturalmente num plantel, muito menos num onze titular. No onze base que termina a época, aliás, só dois jogadores, Bastos e Marlon Freitas, transitaram de 2023 – e pareciam, graças a Artur Jorge, jogar juntos há décadas.
Os outros, do guarda-redes John ao ponta de lança Igor Jesus, passando pelos laterais Vitinho e Alex Telles, o central Barboza, o trinco Gregore, os criativos Almada e Savarino ou a estrela Luiz Henrique, chegaram no início da época ou até a meio dela. E, no entanto, correram, todos para o mesmo lado, dentro e fora do campo.
O «pecado» da imprensa
O grande mérito e o único pecado do Artur reside aí, na questão 2023, diz Paulo Vinícius Coelho, jornalista dos canais Paramount. O mérito foi pegar num clube habituado ao fracasso e levá-lo ao sucesso, ele cuidou da autoconfiança de uma equipa que em 2023 chegou a ter 14 pontos de avanço sobre o Palmeiras e perdeu, o pecado foi usar isso para atacar a imprensa, ele interrompeu uma pergunta ao Marlon sobre 2023 mas depois aplaudiu quando o mesmo Marlon disse 'tinha de ser aqui' após a vitória na casa do Palmeiras...
Brilhante taticamente
Entretanto, do ponto de vista técnico e tático ele foi brilhante, formou uma equipa que marcou em bloco médio, só sétimo em posse de bola mas sempre a atacar o espaço, completa Paulo Vinícius Coelho. O Botafogo, aliás, ganhou seis pontos a Palmeiras, Flamengo e Inter e quatro ao Fortaleza, os clubes da frente, quando teve, em teoria, mais espaço. E fora de casa, quando esses espaços são mais fáceis de encontrar, dominou: 11 vitórias, cinco empates e três derrotas.
O profissionalismo do clube
O profissionalismo do clube nos detalhes ajudou o português: além do Núcleo de Scout, dirigido por Alessandro Brito, desviado do Atlético Mineiro, ter contratado com régua e esquadro, o Núcleo de Performance exigiu viagens só em aviões grandes para os jogadores se deitarem em três assentos – por causa disso, para Doha, aonde chegou nas últimas horas, a equipa voou no avião dos New England Patriots, equipa de futebol americano, após pedido de Textor ao amigo Robert Kraft, dono dos Patriots.