O Sporting Clube de Braga, tetracampeão nacional e campeão europeu de futebol de praia, surpreendeu a comunidade do futebol de praia ao anunciar a suspensão da sua secção dedicada à modalidade. Esta decisão, que deixa sem clube vários jogadores da Seleção Nacional, gerou revolta entre os atletas afetados.
Jogadores criticam falta de respeito da direção
André Lourenço e Miguel Pintado, duas das principais figuras da equipa bracarense, revelaram ao Maisfutebol o seu descontentamento com a forma como a notícia lhes foi transmitida. «Nunca na vida imaginaríamos que isto fosse acabar, sinceramente. Nunca na vida pensei. Tanto que quando li a mensagem até pensei que fosse, sei lá, uma brincadeira qualquer», confessou Lourenço, um dos capitães da equipa.
Pintado, melhor marcador da última edição da Liga portuguesa, partilhou a mesma surpresa: «A minha reação foi de surpresa mas, acima de tudo, revolta. Não tanto pelo clube, mas por tudo o que se construiu.» Os jogadores criticaram a falta de respeito da direção do clube, liderada por António Salvador, por não ter tido uma conversa cara a cara com a equipa antes de tomar esta decisão.
Modalidade perde um grande clube
O Sp. Braga é, a par do Kristall (Rússia), o clube com mais títulos na Euro Winners Cup, com quatro troféus. Dominavam também o panorama nacional com vários jogadores da Seleção Nacional, como os irmãos Martins, Rúben Brilhante, Pintado ou Lourenço. A saída de um clube com este historial é vista como um duro golpe para a modalidade em Portugal.
«A própria modalidade, que é espetacular, parece que dá passos para avançar, mas depois sofre destes trambolhões. Equipas como o Sp. Braga, como o Barcelona, ou o próprio Sporting, que era um ícone também do futebol de praia, acabam por descredibilizar cada vez mais a modalidade», lamentou Pintado.
Profissionalização ainda escassa na modalidade
Os jogadores reconhecem que a profissionalização na modalidade é ainda escassa, com muitos atletas a terem outras profissões ou fontes de rendimento. Pintado, por exemplo, é dentista, enquanto Lourenço tem um part-time. Ambos tinham mais um ano de contrato com o Sp. Braga e agora terão de chegar a acordo para a resolução deste.
Esperança de retomar o futebol de praia
Questionados sobre um possível retrocesso da modalidade a nível nacional, os atletas preferem manter a «esperança». Até porque o clube refere, no comunicado, «o desejo de que seja possível, assim os demais stakeholders o queiram e permitam, que o Sporting Clube de Braga volte a acolher e a apoiar o futebol de praia».
«Em 2019, fomos campeões mundiais. Depois, o Sporting sai da modalidade e nós ficamos do género, como assim? Somos campeões do Mundo, da Europa, vencemos os Jogos Europeus e eles saem? Afinal, não estamos só aqui a falar de resultados, isto vai para além disso», questionou Lourenço.
Questões financeiras levaram à decisão
Segundo o Relatório e Contas do Sp. Braga, o orçamento da secção de futebol de praia na época transata rondava os 300 mil euros, sendo o maior de sempre. No entanto, as receitas resultantes da modalidade estavam muito distantes desse valor orçado, não chegando sequer a um terço. O clube aponta a «forte vertente sazonal» e a incapacidade de «captação de crianças e jovens» como fatores que suportam esta decisão.
«Isto foi triste, especialmente pela maneira como aconteceu», lamentou André Lourenço, que agora terá de procurar uma solução para a sua carreira longe de Braga. Resta saber se o desejo do clube em voltar a apoiar o futebol de praia se concretizará, ou se este será mais um exemplo de um clube de topo a abandonar a modalidade.