Após um início de época turbulento, o futebol português parece encontrar-se num período de maior tranquilidade. As três principais equipas - FC Porto, Sporting CP e SL Benfica - apresentam-se, cada uma à sua maneira, como sérias candidatas ao título nacional. Contudo, não se iludam, pois as armadilhas estão espalhadas e o verdadeiro teste ao novo paradigma do futebol português ainda está por vir.
Neste ambiente, é importante analisar com cuidado a realidade de cada um dos grandes, procurando compreender os seus desafios e a forma como encaram o presente e o futuro.
O Dragão: de volta à acalmia
No Estádio do Dragão, as várias roturas da pré-época fizeram circular o ar, ao mesmo tempo que esvaziaram um pouco as expetativas, «nunca abaixo, no entanto, do compromisso de sempre, fasquia inegociável, que dá sempre uma referência de estabilidade no meio de mares revoltos», como refere o texto. A Supertaça alimentou as almas para o clássico a seguir, devolvendo-as um pouco à realidade, embora se saiba que os adeptos estarão lá até ao fim, ou perto deste.
A «ideia de que podem provar que se pode ganhar de outra forma, integrando uma visão mais global do mundo, uma maior e mais saudável proximidade entre todos os agentes e, mais importante ainda, entre os seus: atletas, dirigentes e adeptos» poderá dar-lhes ainda mais motivação.
Alvalade: a solidez de um processo
As dolorosas sensações trazidas inevitavelmente de Aveiro diluíram-se na solidez de um processo que não abala com a mudança de intérpretes, tal como «muito provavelmente as escorregadelas, literais e não literais, de Eindhoven serão digeridas, tranquilamente, de forma adulta, como se de um acidente de percurso se tratasse».
Além disso, a abertura do treinador e dos jogadores ao diálogo com os adeptos «sublinha também essa ideia de que comunicar bem e, sobretudo, de forma acertada para um público cada vez mais culto, dada a imensidão da informação ao seu dispor, só engrandece a liderança, em vez de reduzi-la, e tornar-se inimiga de si própria, fornecendo armas aos adversários».
A Luz: um clube em busca de tranquilidade
No Benfica, o clube com maior número de adeptos no país, «as janelas estão fechadas e trancadas e o ar não corre. Não há tranquilidade no discurso, temem-se as assembleias e os votos negativos, e as aparições em público são controladas o mais possível. Os protagonistas são ocos, pouco deles se conhece para além da bidimensionalidade que apresentam em campo.»
O regresso de Bruno Lage trouxe alguma esperança, com a «noite europeia que devolveu à Luz e que vai permanecer na memória das bancadas por algum tempo». Contudo, falta ver como o treinador se comportará «à luz das derrotas» e se realmente «evoluiu no tempo que passou fora da Luz».
A acalmia no futebol português
Apesar dos pontos em atraso, «há esperança cada vez mais viva nas águias. A de um novo milagre de alguém que já foi milagreiro. Os leões apresentam-se dominadores. E, no que diz respeito aos dragões, subsiste a certeza de que serão candidatos como sempre.»
Enquanto os três ganharem, «o ambiente assim continuará, mas todos sabemos não ficará assim para sempre. As armadilhas estão espalhadas. O teste será duro, mais uma vez, ao novo paradigma do futebol português.»
O drama do futeboliquistão
O texto começa com uma descrição irónica do futebolista português, que «não adormece embriagado e dorido e acorda todo preparado para a vida logo pela fresquinha, de camisa engomada e por dentro das calças.» Não há «remédio caseiro» que lhe devolva a dignidade de um dia para o outro, o que levanta dúvidas sobre a «súbitas alterações de que um futebol que nunca gostou de si próprio ter subitamente aprendido a amar-se.»
São inúmeras as «discussões de proporções dantescas. Da TV para as bancadas, das bancadas para as esperas. Rastilhos a cada canto, armadilhas preparadas, e o bom senso a ir pelo cano.»
A pressão do futebol moderno
Mesmo «tão cedo que não é por não cheirar a napalm que, quando começar a doer e os objetivos parecerem escorregar por entre os dedos, não se espere voltar a sentir a pressão, o ambiente mais carregado e barbaridades ditas e repetidas em momento de descontrolo, tão típico da humanidade e mais ainda da que acha que gosta do jogo.»
Nem «o génio com maior quociente de inteligência em todo o planeta conseguiu descobrir como manter a racionalidade na reação ao pontapé para a atmosfera de debaixo um Arco do Triunfo ou ao frango monumental, replicado desde o seu epicentro até estilhaçar todos os corações na periferia.»
A necessidade de uma visão global
Apesar de todas as dificuldades, «a ideia de que podem provar que se pode ganhar de outra forma, integrando uma visão mais global do mundo, uma maior e mais saudável proximidade entre todos os agentes e, mais importante ainda, entre os seus: atletas, dirigentes e adeptos» pode trazer uma nova luz ao futebol português.
Esta abertura e comunicação eficaz «só engrandece a liderança, em vez de reduzi-la, e tornar-se inimiga de si própria, fornecendo armas aos adversários.»