Preparador físico de Jorge Jesus deixa clube árabe para regressar a Portugal
Márcio Sampaio, que trabalhou durante 15 anos como preparador físico de Jorge Jesus, decidiu recentemente abandonar a equipa técnica do treinador português. Em entrevista à A BOLA, Sampaio explicou que a principal razão para esta decisão foi a vontade de estar mais perto da sua família, nomeadamente da sua filha Rafaela, de 4 anos.
Dificuldades em conciliar trabalho com vida familiar
Essa é a pergunta que muitos me fazem, porque toda a gente diz que nós somos extremamente bem pagos, e todos querem trabalhar com um treinador como ele. Mas eu tinha aqui uma questão pessoal que tem a ver com a minha família, que não queria ir para a Arábia Saudita e o facto de a minha filha ter 4 anos pesou muito mais nessa decisão, revelou Sampaio.
De facto, a constante mudança de país e a ausência prolongada do seio familiar foram fatores determinantes na decisão de Sampaio. Sim, foram muito difíceis porque nós vínhamos poucas vezes a Portugal e quando vínhamos ficávamos só 3/4 dias. Eram poucos dias cá e partia-me o coração quando a deixava na escola e sabia que já não a ia buscar. Isso para mim era muito desolador. E ela, ao longo do tempo, foi começando a perguntar-me mais porque é que me ia embora. Chorava quando a começávamos a preparar para me ir embora. Custava-me muito estar ausente.
Gratidão por Jorge Jesus
Apesar da exigência e do stress de trabalhar com Jorge Jesus, Sampaio reconhece que muito deve ao treinador português. Devo-lhe tudo e fiz questão de lhe dizer pessoalmente, porque temos de ter gratidão por quem nos ajuda, quem nos dá a oportunidade e eu com ele aprendi imenso. Tenho de ter imensa gratidão pelo que ele fez.
Desafios de trabalhar com Jorge Jesus
Dos vários momentos em que trabalhou com Jorge Jesus, Sampaio considera que o mais desafiante foi a primeira experiência, quando chegaram a Braga. Foi a minha primeira experiência com ele, sem praticamente o conhecer, e tive de me moldar àquilo que ele é. Obviamente, acho que é notório que o Benfica lhe deu outra bagagem. O Benfica deu-lhe outro conhecimento também que ele provavelmente não tinha em Braga em alguns assuntos, mas que ele já era um treinador de reputação e reconhecido, que chegou a Braga com créditos firmados no futebol português.
Já a segunda passagem de Jorge Jesus pelo Benfica, em 2020/21 e 2021/22, foi particularmente desafiante devido à conjuntura que se vivia no clube. Foi a expectativa criada por ele chegar. O Benfica não vinha de um bom período e ele chegou com a expectativa de colocar a equipa novamente a jogar aquilo que tinha jogado na primeira passagem, até por aquilo que as pessoas identificavam que foi no Flamengo. Óbvio que não podemos dissociar essa expectativa daquilo que foi dito na conferência de imprensa da apresentação e depois foi desafiante criar uma simbiose no momento crítico que nós tivemos como foi o Covid-19.
Saída conturbada do Benfica
Sampaio acredita que a saída de Jorge Jesus do Benfica não se deveu apenas a problemas com alguns jogadores, como foi amplamente divulgado. Sim, houve a reunião que toda a gente sabe, mas o mister já falou disso, e o próprio Pizzi também, mas não foi como se divulgou e as coisas não se partiram ali. Foi um conjunto de coisas que precipitaram a nossa saída e no fundo o Benfica vive de resultados, as coisas não estavam bem, nós tínhamos acabado de perder no Porto.
Apesar da saída conturbada do Benfica, Sampaio não guarda ressentimentos. Não saímos porque um jogador ou dois jogadores fizeram para que saíssemos.
Jorge Jesus, o treinador ideal para a seleção brasileira
Sampaio acredita que Jorge Jesus seria a escolha certa para treinar a seleção brasileira. Sem ser arrogante, e sem estar aqui a puxar o lustro, atrevo-me a dizer que Jorge Jesus seria a pessoa certa para treinar a seleção do Brasil. Ele tem um nível de conhecimento do jogador brasileiro e do campeonato brasileiro muito grande. Ele tem estatuto, tem uma liderança forte, um grande conhecimento do futebol brasileiro e a seleção precisa disso.
Sampaio recorda o sucesso de Jorge Jesus no Flamengo, onde era verdadeiramente amado pelos jogadores. Costuma dizer que santos da casa não fazem milagres… É cultural que não levam um treinador estrangeiro, mas se calhar pode estar aí agora a chave possam modificar alguma coisa. O futebol brasileiro também precisa de uma nova cara.