Há 45 anos, o Amarante FC, um modesto clube da II Divisão Zona Norte, protagonizou um dos feitos mais marcantes da sua história ao empatar com o Sporting, então futuro campeão nacional, na terceira eliminatória da Taça de Portugal. Apesar de nunca terem jogado na Primeira Liga e de o Sporting nunca ter descido às divisões inferiores, os dois conjuntos mediram forças nesta rara oportunidade proporcionada pela competição mais democrática do futebol português.

E os amarantinos, contra todas as expectativas, conseguiram um empate (1-1) no primeiro jogo, disputado no antigo Campo da Barroca. «Lembro-me que, em Amarante, as pessoas abordavam-nos tristes e diziam: "O Sporting é muito forte, não temos hipóteses". Sabíamos, enquanto equipa, que tínhamos bons valores e isso dava-nos alguma esperança. Pensávamos: "Bem, vamos lutar e vamos para a frente". Só assim é que seria possível algum resultado positivo», recordou Antero Duarte, defesa central do Amarante na altura.

O Golo do Empate

O golo do empate foi marcado por Jorge Carvalho, um jovem médio de 19 anos que se destacava pela sua qualidade nas bolas paradas. «Foi um livre batido com força - batia-os sempre com muita força - e foi um desvio mesmo muito subtil, mas que mandou a bola para um lado e o Fidalgo [guarda-redes do Sporting] para o outro», contou o próprio.

Apesar de terem sido goleados no jogo da segunda mão, em Alvalade, a façanha do Amarante FC ficou para a história. «As expectativas foram mais que superadas. Toda a gente ficou encantada e maravilhada com o feito de uma equipa tão pequena. Podíamos ter sido mais um tomba-gigantes. Esse foi, até então, talvez o maior feito do Amarante FC: levar a eliminatória a um segundo jogo», destacou Antero Duarte.

Um Jogo da Vida

Jorge Carvalho, que já tinha subido à primeira equipa com apenas 17 anos, recordou a importância deste tipo de jogos para os clubes mais modestos: «A satisfação é muito grande quando as equipas pequenas têm a possibilidade de jogar contra uma equipa como aquela. É o jogo de uma vida. A população amarantina ficou muito satisfeita com aquele resultado e isso vê-se agora.»

Ligação Duradoura

Apesar de terem passado 45 anos, tanto Antero como Jorge mantêm uma ligação forte ao Amarante FC. «Acompanho o clube à distância, porque vivo em Vila do Conde há 40 e muitos anos. Portanto, acompanho sempre que posso e, quando me chamam para qualquer coisa, nunca digo que não. É a minha equipa do coração», afirmou Jorge Carvalho.

Esperança de Nova Surpresa

Agora, com o Amarante FC a defrontar novamente o Sporting, na terceira eliminatória da Taça de Portugal, os dois ex-jogadores esperam uma grande mobilização dos adeptos amarantinos, apesar de reconhecerem a enorme dificuldade da tarefa. «Já há uma série de autocarros para se deslocarem a Alvalade, mas vou-vos dizer: vai ser um jogo extremamente difícil. Pela época do Sporting e pelo facto de os jogadores quererem sempre mostrar mais com a mudança de treinador... Eles têm jogado um futebol fantástico e cabe ao Amarante FC retardar ao máximo o eventual golinho», aconselhou Jorge Carvalho.

Antero Duarte também não vê grandes hipóteses para o Amarante FC, mas não deixa de alimentar a esperança de uma nova surpresa: «Se for um por cento em 100, já é muito. De qualquer modo, se o Sporting vacilar e facilitar com uma segunda equipa, sem o Gyokeres, o Hjulmand, o Inácio... Aí, talvez se consiga fazer alguma graça, mas é muito complicado.»