Invasões de campo no futebol português continuam a preocupar

  1. Existem quase 120 processos contraordenacionais em curso devido a invasões de campo no futebol português
  2. Desde 2018, já houve 35 condenações efetivas e 25 sanções de entrada interdita em recintos
  3. As invasões intensificaram-se durante o Euro 2024, com os adeptos a visarem Cristiano Ronaldo
  4. A invasão de campo pode implicar coimas de 1.000 a 10.000 euros ou até dois anos de prisão
  5. As redes sociais são identificadas como um fator que incentiva este tipo de comportamento

Um fenómeno recorrente


O fenómeno das invasões de campo no futebol parece estar a ganhar novamente força em Portugal, com a Autoridade para a Prevenção e o Combate à Violência no Desporto (APCVD) a estimar que existem atualmente quase 120 processos contraordenacionais em curso devido a este tipo de incidentes.

Segundo o presidente da APCVD, Rodrigo Cavaleiro, «a esmagadora maioria tem a ver com futebol, mas estamos a falar em muitas situações de espetáculos de âmbito distrital, nos quais as medidas de proteção física não são tão impeditivas para estas ocorrências». Ainda assim, Cavaleiro destaca que «felizmente, há uma minoria de situações em provas profissionais».

Contexto internacional


Os processos instaurados desde a criação da APCVD, em outubro de 2018, decorrem de invasões sem perturbação direta em eventos desportivos e já levaram à aplicação de quase 35 condenações efetivas e 25 sanções acessórias de entrada interdita em recintos.

«O panorama nacional acompanha a tendência internacional. Na conferência anual de segurança da UEFA, que teve lugar este mês em Lausana, na Suíça, a invasão de recintos desportivos foi apontada como uma das situações que causa preocupação aos organizadores e às autoridades. Está associada à mediatização e promoção através das redes sociais, que são identificadas nesse contexto como um combustível», revelou Rodrigo Cavaleiro.

Incidentes durante o Euro 2024


As invasões de campo intensificaram-se durante o Campeonato da Europa de 2024, realizado na Alemanha, com vários episódios a ocorrerem durante e no final da maioria dos jogos da seleção portuguesa até à eliminação nos quartos de final. «Julgo que tem sido por fases. Há mais de uma década que se verificam situações destas. Todos nos lembramos de passarem imagens televisivas de pessoas que invadiam recintos. Faziam-no de uma forma quase desinteressada ou por motivações de obtenção de rendimentos através da publicidade, havendo também quem tentasse expor causas em jeito de protesto», recordou o presidente da APCVD.

Impacto nas transmissões televisivas


Neste Europeu, os adeptos invasores tiveram como alvo prioritário o capitão da seleção nacional, Cristiano Ronaldo, aparentemente com o objetivo de obter uma fotografia com o seu ídolo em pleno relvado. «Em termos de medidas preventivas, estas invasões levaram a um acordo e à boa prática de evitar a sua transmissão televisiva, de modo a não incentivar as pessoas a procurarem este tipo de exposição pública e mediática. Apesar disso, basta que uma outra pessoa esteja coordenada com o invasor e grave com o telemóvel para facilitar a publicação de imagens nas redes sociais e aumentar imediatamente a audiência», admitiu Rodrigo Cavaleiro.

Medidas legais e sanções


Além dos casos menos graves, com coimas entre 1.000 e 10.000 euros ou uma sanção acessória até três anos de interdição, a invasão do terreno de jogo pode constituir crime se afetar diretamente o evento, podendo implicar até dois anos de prisão e um a cinco anos de acesso proibido a recintos desportivos.

«Com o advento das redes sociais, há uma outra vaga e uma nova motivação para que as pessoas procurem este tipo de exposição e tenham aqui um outro canal privilegiado na chegada às massas e na obtenção de toda a atenção que procuram», notou Rodrigo Cavaleiro.