O FC Porto escreveu em Aveiro, diante do Sporting, uma página épica na sua história pela pena de Vítor Bruno, numa reviravolta de sonho que permitiu ao treinador conquistar o seu primeiro título nacional como ator principal no clube que representa há sete anos.
O dragão encostado às cordas
O dragão esteve encostado literalmente às cordas, acossado por um leão que se deslumbrou perante a presa que tinha na boca, recolhendo as garras demasiado cedo. E depois deu-se futebol ou, no caso, um sério exemplo daquilo que é o verdadeiro ADN do FC Porto, uma espécie de património imaterial, uma vocação que em Portugal é praticamente única. É com base nesse sentimento que Vítor Bruno deu a sua palestra ao intervalo, corrigindo ao mesmo tempo as posições dos seus jogadores e lançando-os para uma segunda parte verdadeiramente demolidora.
O apelo ao coração
O apelo ao coração bateu fundo e a mensagem passou na íntegra, tal a intensidade colocada no relvado do Estádio Municipal de Aveiro, sempre na defesa intransigente dos valores que simbolizam o clube, a cidade e a região norte. Mudam os presidentes, mudam os treinadores, mas o ADN FC Porto é imutável. «Tentamos sempre encarnar os valores e desígnios desta gente que tanto trabalha, que é apaixonada e estoica e é este o nosso manual de compromisso aqui dentro. Para nós não é negociável e os jogadores sabem isso. Enquanto o jogo não for concluído agarramo-nos à esperança e uns aos outros», confidenciou o novo homem do leme da nau azul e branca, que se pôs sempre à margem nos festejos da Supertaça, direcionando os holofotes para aqueles que são os verdadeiros protagonistas: os jogadores.
A reviravolta épica
Como se fosse uma religião, os jogadores que estavam em campo e os que entraram na segunda metade e no prolongamento compraram a pregação do seu líder e encetaram uma reação enérgica, deixando completamente à deriva um leão atarantado com tanta energia que regressou do balneário azul e branco.
No interregno, a palestra de Vítor Bruno até evocou a final da Champions entre o Milan e o Liverpool, que os italianos estavam a ganhar 3-0 ao intervalo, mas os ingleses operaram também uma remontada épica que ficou nos anais da história. A famigerada frase do anel de compromisso com a causa portista foi também evidenciada vezes sem conta e a superação pedida resultou em pleno, Com sorte, é um facto, mas como uma vontade acérrima de dar a volta a um contexto bastante adverso. O golo de Galeno escancarou as portas da reação, as entradas de Eustáquio, Vasco Sousa, Iván Jaime e Fran Navarro deram sequência a essa resposta cabal. O dragão pode estar à beira do KO, mas a sua força é sempre inesgotável.