Ex-futebolistas realçam necessidade de combater racismo no futebol desde cedo

  1. Ex-futebolistas apelam à educação desde cedo para combater racismo no futebol
  2. Jorge Andrade e Sol Campbell participaram na cimeira Thinking Football
  3. Racismo é classificado como 'defeito cultural' que deve ser combatido
  4. Diversidade é vista como fator de sucesso no ecossistema do futebol

O combate ao racismo no futebol requer uma sociedade mais educada a partir de idades jovens, apelaram hoje os ex-futebolistas Jorge Andrade e Sol Campbell, admitindo que esse preconceito costuma ser intensificado em cenários de alta competição.

A luta contra o racismo foi abordada no segundo dia da terceira edição da cimeira Thinking Football, que promove debates sobre a modalidade com oradores nacionais e internacionais entre quinta-feira e sábado, no Pavilhão Rosa Mota, no Porto, sob organização da Liga Portuguesa de Futebol Profissional (LPFP).

Educação como chave para combater o racismo


Sou um privilegiado no futebol, mas certas coisas passavam-nos um pouco ao lado e tive dificuldade em entender muitas vezes o porquê de as pessoas adotarem o racismo na hora de quererem que a sua seleção ou clube vencesse. Temos de ser cada vez mais concisos para ajudar os jovens a terem noção de que há diferentes raças e culturas, partilhou o antigo defesa central internacional português Jorge Andrade, de 46 anos.


Comparo o racismo a uma pessoa que não é culta e é estúpida. Quem não está integrado comporta-se de forma errada com quem é diferente, notou o ex-jogador de Estrela da Amadora, FC Porto, dos espanhóis do Deportivo da Corunha e dos italianos da Juventus.

Importância do exemplo e da positividade


Lembrando o passado da sua família, que tem ascendência cabo-verdiana e foi tratada como escrava em África, Jorge Andrade evocou o já falecido Neno, encarando o antigo guarda-redes e dirigente como um exemplo no contacto sorridente com a sociedade.


Quando é preciso educar pessoas e mudar mentalidades, tens de fazê-lo com um sorriso. Ele transmitia alegria e o sorriso mata imensa coisa à nascença. Muitas vezes, quem julga que está a sofrer de racismo sai de casa com cara fechada e não tem um dia bom. No desporto, é preciso haver leis para punir quem tenta usar o racismo em prol de vitórias, reforçou.

Diversidade como fator de sucesso


Sol Campbell, de pais jamaicanos e com 73 internacionalizações por Inglaterra, também classificou a discriminação racial como um defeito cultural, que tem vindo a branquear o papel fundamental dos negros na sociedade e deve ser combatido desde tenra idade.


Há tantas pessoas fabulosas, de contextos e cores completamente distintas, que querem fazer parte do ecossistema futebolístico. Tem de haver uma mudança estrutural para permitir que a igualdade de oportunidades esteja presente. Nem todos podemos ser gestores, mas está provado que a diversidade é um conceito ganhador. A tecnologia não olha à cor das pessoas. Para mim, tudo tem a ver com conhecimento, sustentou.

Combater o racismo de forma constante


Há que ter uma conversa pública sobre o quão doloroso é ouvir cânticos racistas em estádios. Estamos a falar de adeptos que nem eram nascidos quando eu jogava e entoam coisas horríveis e sem sentido. Qual é a razão de o racismo surgir sempre por defeito? Parece que parámos no tempo, mas temos de acabar com esta conversa, assumiu o ex-defesa central, de 49 anos.


Referência do histórico título inglês conquistado sem derrotas pelo Arsenal, em 2003/04, Sol Campbell tornou-se empresário e investidor depois do adeus aos relvados e juntou-se este ano à Talnets AG, organização dedicada à identificação de talentos jovens no futebol.

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