Cenário muda após anos de insolvência
Quando Vítor Murta se candidatou à presidência do Boavista em 2018, o clube enfrentava um processo de insolvência e ninguém se queria arriscar. Porém, após dois mandatos, o cenário é bem diferente. «Agora houve várias listas, temos ativos que não existiam nessa altura e há suporte do [acionista maioritário da SAD] Gérard Lopez, que, mal ou bem, vai injetando dinheiro», afirmou o advogado de 49 anos em entrevista à agência Lusa.
No último verão, Lopez injetou mais de 5 milhões de euros na SAD do Boavista, mas mesmo assim não foi possível resolver os impedimentos impostos pela FIFA. Ainda assim, Murta considera que o clube «já está muito melhor do que estávamos e temos vida».
Fim de um ciclo conturbado
Eleito sem oposição em 2018 como sucessor de João Loureiro, Vítor Murta foi reconduzido no cargo após três anos, mas decidiu não se recandidatar a um terceiro mandato. Apesar dos desafios, o dirigente afirma ter exercido as suas funções «com orgulho enorme» e dado o seu melhor, embora nem sempre tenha sido suficiente.
«Esta instituição tem imensos problemas, principalmente no plano financeiro, que se originaram a partir da construção do Estádio do Bessa e foram sendo herdadas ao longo dos anos. Acho que quem passou por cá tentou dar o melhor», frisou Murta.
Entrada de Gérard Lopez foi «fundamental»
O advogado sucedeu a Álvaro Braga Júnior na SAD do Boavista, poucos meses antes da entrada de Gérard Lopez no controlo maioritário, uma decisão aprovada por unanimidade pelos sócios. Desde então, o Boavista tem conseguido a manutenção na I Liga, mas Murta reconhece que o projeto desportivo «acabou por ser posto em causa» devido a uma alegada incompatibilização entre Lopez e Luís Campos, então diretor-geral para o futebol.
Apesar disso, Murta considera que a entrada de Lopez foi «fundamental para a nossa sobrevivência» e acredita que a continuidade do investidor faz sentido, desde que a SAD cumpra o protocolo com o clube. Caso contrário, «há que encontrar outras soluções ou este clube não tem forma de subsistência».
Contestação dos adeptos e atrasos salariais
Murta não foi convidado por Lopez para um novo mandato na SAD e deu lugar a Fary Faye em maio de 2024, três meses depois de renunciar ao cargo, em desagrado com a contestação dos adeptos. O dirigente recorda que, naquela altura, o Boavista não estava no último lugar da I Liga, os funcionários não tinham salários em atraso e havia uma forte contestação a si. Atualmente, a situação é pior, com o clube no último lugar, funcionários com quatro meses de salários em atraso e sem melhorias à vista na SAD.
Murta lamenta que a contestação que havia sido «promovida internamente com o objetivo claro» de o fazer sair da SAD, mas agora que os contestatários têm o poder «não sabem o que fazer».