O percurso de Jorge Silva, central português que atua no Tirsense, fez com que fosse visto de forma diferente no meio futebolístico. Após uma passagem de sucesso pela Lázio, na Itália, o jogador reconhece algumas decisões que tomou nos últimos anos que o prejudicaram, mas está determinado a recuperar o "gostinho" que tinha perdido pelo futebol.
Silva, de 26 anos, abriu o coração e falou sobre as dificuldades que enfrentou, revelando episódios marcantes da sua carreira, nomeadamente a saída da formação do Benfica, que diz ter sido "injusta" e que o "prejudicou".
«Sinto-me bem e estou a recuperar esse gostinho que tinha perdido»
«Sinto, sou sincero. Foi isso que procurei nos últimos dois anos. Tomei algumas decisões erradas ao não optar por um ou outro clube. Como tinha estado num nível muito alto na Lázio, preferi esperar e acabei por ficar algum tempo parado. Nessa fase, não apareceram projetos à medida do que eu ambicionava e, tanto no ano passado como neste, quis integrar um projeto em que me sentisse valorizado», revelou Jorge Silva.
No Tirsense, clube ao qual chegou esta época, o defesa central percebeu que iriam olhar para ele como alguém experiente. «Sinto-me bem e estou a recuperar esse gostinho que tinha perdido por decisões que tomei, mas também por questões extrafutebol.»
Saída «injusta» do Benfica
Jorge Silva explica que «eu e o meu irmão [Fábio Silva] fomos do FC Porto para o Benfica, mas ele nunca escondeu que o clube do coração é o FC Porto. Quis regressar. Eu estava no segundo ano de júnior no Benfica e tinha sido nomeado capitão. O Fábio decidiu voltar e o Benfica castigou-me por isso. Houve pessoas que me disseram: "Não conseguimos fazer o teu irmão mudar de ideias, mas vamos castigar-te para chegar ao coração dele". O Fábio, ao saber disso, quis voltar atrás. Disse-lhe para ir, que eu aguentava. Chamaram o João Tralhão, que era treinador dos juniores, e disseram-lhe que, a partir daquele momento, eu só ia correr à volta do campo.»
Silva salienta que «o Benfica foi um clube que me recebeu muito bem e onde não me faltou nada. Não queria sair, mas fui obrigado. Foi injusto e sinto que fui prejudicado, porque o meu irmão tinha o direito de sair sem que me prejudicassem.»
Aprendizagem na Lázio e obstáculos no regresso a Portugal
Depois da saída do Benfica, Silva rumou à Lázio, onde viveu «três anos incríveis». «Chegar a um país onde sempre quis jogar e que representa tanto para o futebol foi um sonho concretizado. Aprendi muito na formação da Lázio e, quando passei à equipa principal, apanhei o Simone Inzaghi, atual treinador do Inter. Marcou-me, porque, além de perceber imenso sobre o jogo, tem uma parte humana incrível, estava sempre preocupado com os jogadores.»
Já no regresso a Portugal, Silva passou pelo Boavista, onde «algumas pessoas lá dentro quiseram fazer-me a vida negra e criaram uma imagem minha que não corresponde ao que sou. Uma imagem de ovelha negra, que fez com que treinadores como Vasco Seabra e Jesualdo Ferreira nunca contassem comigo para a equipa principal.»
Superação de desafios e determinação em resgatar carreira
Apesar dos obstáculos, Silva garante ter «mostrado que não era impossível» chegar à equipa principal da Lázio. «Houve gente a dizer-me que não chegaria à equipa principal, como tinha acontecido com outros jovens portugueses em Itália. "Eles não promovem ninguém estrangeiro da equipa Primavera", cheguei a ouvir. Respondi com um "vamos ver", e consegui. Foi bom para mostrar às pessoas que, afinal, não era impossível.»
Agora, no Tirsense, Silva procura resgatar o brilho da sua carreira e recuperar o «gostinho» que tinha perdido pelo futebol, depois de algumas decisões que reconhece terem sido erradas.