O INESPERADO ANTES DA EXPLOSÃO DO SPORTING

  1. O Sporting liderava o campeonato com uma sequência de 11 vitórias consecutivas
  2. O recorde de 11 vitórias seguidas do Sporting foi igualado por Ruben Amorim, mas não batido
  3. Marinho Peres, treinador do Sporting em 1990/91, detinha o recorde de 11 vitórias seguidas
  4. O Sporting sofreu 4 derrotas seguidas após a saída inesperada de Ruben Amorim como treinador

Ao longo da vida, temos nos habituado a situações incríveis no futebol, especialmente os resultados surpreendentes que estão sempre a acontecer. Como os tomba-gigantes, na Taça de Portugal, ou os pequenos a vencerem em casa dos grandes. Ou as crises nos clubes, nas chicotadas psicológicas provocadas por uma sequência de três ou quatro jogos sem vencer. E nisto de crises, o Sporting costuma ser rei e senhor.

A Invencibilidade do Sporting


Vejam bem a situação atual. Se há três ou quatro semanas perguntassem a um adepto do futebol (sportinguista ou de qualquer outro clube), todos respondiam que o Sporting estava imbatível, a jogar muito bem, goleador e moralizado. Que ia vencer o campeonato, sem dar hipóteses aos rivais. E porque já levava grande diferença de pontos, nas 11 vitórias seguidas. Todos os jornais previam que Ruben Amorim ia bater este recorde do treinador brasileiro Marinho Peres (época 1990/91). Eu próprio pensava trazer aqui a memória daquele dia 14 de novembro de 1990, quando a série de triunfos foi interrompida em Chaves.

A Saída Inesperada de Ruben Amorim


Todavia, inesperadamente, surgiu a notícia que Ruben Amorim ia deixar o Sporting para, imediatamente, treinar o Manchester United, cedendo o lugar a João Pereira. Pois bem. Em Alvalade, o Sporting vencerá o Santa Clara e fica o recorde no currículo do João. Qual quê? Não é que a tal equipa imbatível, moralizada e goleadora apresentou-se em campo nervosa, transtornada, e não conseguiu suplantar o adversário… nem os reconhecidos erros de arbitragem. Pior ainda, na jornada seguinte nova derrota em Moreira de Cónegos. E outra ainda na deslocação à Bélgica (Clube Brugge). A crise instalada. Quem diria?

O Recorde de Marinho Peres


Mas neste momento o futebol do Sporting já quebrou o ciclo negativo das quatro derrotas. Venceu o Boavista, a equipa mostrou-se confiante e dominadora e continua a liderar o campeonato! Por enquanto, está tudo em aberto. É preciso serenidade e união.


A verdade é que embora igualado por Ruben Amorim, o tal recorde de Marinho Peres continua a figurar. Recordemos o grande Marinho, que nos deixou o ano passado, com 76 anos. Foi um defesa-central de categoria na seleção do Brasil. Era um treinador marcante, amigo, disponível e bem-disposto, com envergadura física e ar bonacheirão (que nos recebia sempre com a expressão 'fala garoto'). Veio treinar o Sporting, com o seu adjunto António Dominguez (tinham ganho a Taça de Portugal pelo Belenenses). E começou em grande, com 11 vitórias seguidas no campeonato.

O Fim da Invencibilidade de Marinho Peres


Naturalmente, os adeptos (tal como agora) andavam entusiasmados, alguns eufóricos com a carreira da equipa. E Marinho Peres foi avisando os sportinguistas que o Sporting não tinha uma superequipa. Que mais cedo ou mais tarde o desaire podia acontecer. E o deslize foi em Chaves, onde nunca tinha vencido. Na 12ª jornada. Um empate (2-2) interrompeu a série de onze triunfos.


Com domínio absoluto dos leões, 2-0 ao intervalo e um remate (de Careca) ao poste, nunca se pensou que o Chaves (treinado por Manuel Barbosa) pudesse reagir, no segundo tempo, e chegar ao empate. Ah! Tal como agora, a equipa leonina também jogou desfalcada de dois elementos preponderantes: o central internacional brasileiro Luisinho (lesionado) e o guarda-redes internacional croata Ivkovic. E logo estes dois… Para a baliza entrou o eterno suplente Sérgio (fez o único jogo no campeonato) e para a defesa o Bozinovski, que o Sporting tinha ido buscar ao Beira-Mar. Ainda por cima, o golo do empate foi um erro clamoroso dos dois. Bozinovski atrasou mal a bola para o guarda-redes Sérgio e Gilberto, rápido, intrometeu-se entre os dois e fez um golo fácil. E muito festejado. Como foi agora o do Santa Clara. Pudera! Acabar com uma invencibilidade… E assim, ficou por aqui o recorde de Marinho Peres. Que agora poderia ter sido batido por Ruben Amorim ou por João Pereira e… não foi.

A Memória do Jogo em Chaves


Da transmissão da partida de Chaves recordo o grande golo do Oceano (a quem Vítor Serpa, cronista desse jogo, atribuiu o melhor em campo) e a barracada que deu o empate. E a deceção dos sportinguistas que viram fugir uma vitória que parecia garantida.


A minha memória leva-me a essa noite de há 34 anos porque acompanhei o jogo pela televisão, enquanto jantava, com o meu companheiro de redação Carlos Sequeira (rapaz da minha idade) e o Pires (rapaz do FAX) no restaurante Caravela, ali nas imediações do Estádio do Bonfim, em Setúbal. E sabem porquê? Ambos fomos marcados pelo jornal A BOLA para fazer a crónica e reportagem do jogo Vitória–Beira-Mar (1-1), que começava mais tarde.

O Campeonato Nacional de 1990/91


Por acaso, nessa época, o Campeonato Nacional foi disputado por 20 clubes. No final desceram 5 e subiram 3, para voltar aos 18 no ano seguinte. Antigamente eram 14 equipas, depois 16 e, cada vez que havia alguma embrulhada de final de época, com clubes a reclamar, aumentava-se o número de participantes. Por isso, tal como agora, o Sporting fazia três jogos por semana.


Neste ano, o Sporting, de Marinho Peres, classificou-se em 3.º lugar, a 11 pontos do FC Porto e a 13 do campeão Benfica. E se a vitória já valesse três pontos, ficaria a 18 e a 21. Contudo, o Sporting salvou-se na Europa. Na Taça UEFA chegou às meias-finais, onde foi eliminado pelo poderoso Inter de Milão, depois de ter ultrapassado o Mechelen (Bélgica), o Timisoara (Roménia), o Vitesse (Países Baixos) e o Bolonha (Itália).

As Taças de Honra do Sporting


Ah! Não podemos esquecer que o Sporting, nas duas épocas com Marinho Peres, venceu duas Taças de Honra, da AF Lisboa (1991 e 1992). Era a primeira prova da temporada. Para mobilizar os adeptos. De ambas as vezes derrotou o Benfica (1-0) na final.


Esta é a minha memória dedicada ao saudoso amigo Marinho Peres. Um senhor do futebol que deixou o Sporting em março de 1992. Como é costume, após alguns resultados negativos: derrota com o FC Porto (0-1, golo de Kostadinov), para a Taça de Portugal, em Alvalade, e empate com o Salgueiros (1-1), em Vidal Pinheiro. Para que saibam, Marinho despediu-se dos jornalistas num almoço/convívio no Restaurante dos Pneus, em Bucelas. O adjunto António Dominguez tomou conta da equipa até final da época. E depois veio Bobby Robson, cujo percurso acabou como todos sabem. Com o Sporting à frente do campeonato, um despedimento inesperado, a originar mais uma crise escusada… Episódio que Sousa Cintra reconhece como o maior erro da sua presidência. As tais decisões influenciadas de fora para dentro.

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