O futebol português atravessa uma época de julgamento imediato, onde os treinadores são rapidamente condenados ou absolvidos pelos resultados, sem espaço para reflexão e entendimento do contexto. Este fenómeno é particularmente evidente no início da época atual, com as reações contrastantes aos resultados de Roger Schmidt, do Benfica, e Rúben Amorim, do Sporting.
Se Schmidt não encontrou explicação para a derrota do Benfica com o Famalicão, «condene-se»; se Amorim não encontrou explicação para a derrota do Sporting na Supertaça com o FC Porto, «absolva-se». Esta é a lógica dominante, onde pouco importam as justificações apresentadas posteriormente pelos treinadores em conferência de imprensa. O que conta é o julgamento imediato, sem apelo.
A mesma lógica nas vendas de jogadores
O mesmo se aplica a outras decisões, como a venda de jogadores. Se o Benfica vende David Neres, cujas qualidades Schmidt elogiou, «condene-se»; se o Sporting vende Mateus Fernandes, cujas qualidades Amorim elogiou, «absolva-se». Pouco importam as explicações, pois o julgamento já foi feito.
Este fenómeno não é novo no futebol, um negócio e indústria do «aqui e agora». Quando se ganha, tudo está bem e pouco mais importa; quando se perde, muito ou tudo o resto importa. Neste contexto, o escrutínio, a cobrança, as críticas e os protestos são inevitáveis, quer se trate de Rui Costa ou Roger Schmidt.
A necessidade de um julgamento equitativo
No entanto, o que parece mais difícil de encontrar é um julgamento equitativo, aplicando as mesmas leis a situações idênticas. Aqui, Rúben Amorim não está em causa, pois tem demonstrado a capacidade de dizer muito sem poder dizer tudo. Também não está em causa Roger Schmidt, que parece esforçado em recuperar a comunicação que o tornou convincente quando venceu.
O que está em causa somos todos nós, a nossa incapacidade de fazer o mesmo julgamento para situações idênticas e de não ouvirmos Schmidt como ouvimos Amorim. Nós, jornalistas, somos vítimas, mas também culpados, deste ambiente de imediatismo no futebol. Muitas vezes aqui erramos, e temo que não fique por aqui.