Num país onde o futebol domina a cena desportiva, é importante destacar gestos de solidariedade e inclusão por parte dos principais clubes nacionais. Recentemente, os presidentes do Sporting, Frederico Varandas, e do Benfica, Rui Costa, marcaram presença na Gala do Comité Olímpico de Portugal e enviaram uma mensagem importante para além das quatro linhas.
Vítor Serpa, conhecido especialista em desporto, destaca o simbolismo deste gesto no seu espaço de opinião 'Porque hoje é sábado'. Segundo Serpa, este gesto vai muito além de uma mera cortesia: 'Em primeiro lugar, [este gesto] afirma que dois presidentes de dois dos maiores clubes nacionais não têm apenas uma consideração representativa pelo desporto além futebol, mas porque afirmam, de forma institucional, que o futebol, num país de monocultura desportiva, tem o dever de ser solidário, de ser inclusivo, de ser protagonista de uma inter-relação.'
O estado atual do desporto em Portugal é desafiador, com atletas, treinadores e dirigentes a enfrentarem dificuldades para desenvolver as suas modalidades. O Estado, apesar de reconhecer a importância do desporto na sociedade, não o coloca entre as suas principais preocupações, e os media nacionais também se concentram excessivamente no futebol, deixando a maioria das modalidades sem cobertura mediática e sem escrutínio.
É nesse contexto que a presença de Varandas e Rui Costa na Gala do Comité Olímpico ganha ainda mais relevância. Ela mostra que o futebol, mesmo sendo o centro das atenções, reconhece a importância de apoiar outras modalidades e ser solidário com o desporto em geral. É um exemplo de inter-relação e inclusão num país onde o desporto vive em relâmpagos de incentivo e luta contra o desconhecimento e a incultura desportiva nacional.
A menos de um ano dos Jogos Olímpicos de Paris, Portugal tem alcançado resultados surpreendentes nas diversas modalidades olímpicas. Serpa destaca que Portugal pode ter o seu maior sucesso desportivo de sempre, tanto em medalhas conquistadas como em resultados globais. No entanto, o interesse público pelo desporto além do futebol é limitado e efêmero, sendo impulsionado apenas durante grandes eventos desportivos.
No entanto, Serpa acredita que gestos como o de Varandas e Rui Costa têm um papel fundamental na esperança de um cenário desportivo mais inclusivo e solidário: 'É nesses momentos, em que o foco mediático não está apontado para o palco, que gestos como estes mais se tornam essenciais a uma ideia de esperança.'
Num país onde o futebol reina, é importante reconhecer e valorizar gestos como este que promovem a inter-relação e a solidariedade entre as diferentes modalidades desportivas.
