A tragédia que ocorreu na final da Taça de Portugal de 1995/96 permanece uma lembrança dolorosa para muitos. Carlos Xavier, ex-jogador do Sporting e titular naquela fatídica tarde, partilha as suas recordações: ““As recordações são as piores e, por mais que queiramos apagar do pensamento, nunca vamos esquecê-las. O que foi inadmissível nesse dia é que o jogo continuou. Tínhamos acabado de assistir a uma morte no estádio.””
Essa morte, a do adepto Rui Mendes, resultou de um very light disparado durante os festejos do Benfica. O jogo prosseguiu sem interrupções, um detalhe que ainda assombra os envolvidos. Xavier, que teve um papel importante na partida, relembra: ““Era complicado estar ao mesmo tempo com a cabeça no jogo e na bancada. Após sabermos das notícias, ficámos todos transtornados e tristes pela perda de um sócio do Sporting. Se fosse com um associado do Benfica, era igual.””
Recordações de uma Tragédia
Mauro Airez, que jogou pelo Benfica, também partilha o seu próprio fardo emocional. Ele recorda o momento em que celebrou o primeiro golo da sua equipa, que trouxe consigo um ““sentimento de culpa inevitável.””
Airez relata: ““Quando saio do relvado e começo a correr no túnel... encontrei uma ambulância que ia a sair do estádio e quase me atropelou. Ao regressar para a segunda parte, viu-se que havia um clarão enorme na bancada e manchas de sangue.””
Esta situação impactou a experiência de Airez e deixou marcas indeléveis. Ele descreve a gravidade do momento, sublinhando que a celebração deveria ter sido eclipsada pela tragédia que se desenrolava nas bancadas.
A Crítica ao Futebol
Carlos Xavier não tem dúvidas sobre o que deveria ter acontecido diante da tragédia: ““Na altura, deviam ter dado a partida como suspensa e retomá-la mais tarde. Mas lá está, é o futebol que temos. O que aconteceu foi ridículo.””
Esta frustração ressoa ainda mais quando consideramos as mudanças que ocorreram no futebol português ao longo das décadas. A ausência de ações concretas na altura é algo que continua a perturbar.
Apesar do tempo que passou e dos avanços nas práticas do futebol, Xavier mantém a esperança de que lições tenham sido aprendidas. Ele afirma: ““Rui Mendes não sai do pensamento do universo leonino e espero que o futebol português tenha aprendido, mesmo que os artefactos pirotécnicos continuem a entrar nos recintos.””
Um Futuro de Respeito
Com um novo dérbi a caminho no Jamor, os protagonistas esperam que a história não se repita. Tanto Xavier como Airez desejam que o próximo encontro entre os rivais lisboetas, após 29 anos, seja um jogo que respeite a dignidade de todos os envolvidos. Xavier conclui: ““Espero que seja um jogo agradável e que as pessoas que paguem o bilhete sintam que, no final, valeu a pena. Acima de tudo, que seja um jogo correto, sem casos e com muito 'fair play', o que é mais difícil nestes dias. Que se respeitem uns aos outros, que entrem apenas para jogar futebol, que ganhe o melhor e que o melhor seja o Sporting.””