Uma relação especial com o Sporting
Quando em março de 2020 a administração de Frederico Varandas pagou 10 milhões de euros ao SC Braga para contratar Rúben Amorim, muitas vozes se levantaram, porque seria arriscado ou até ato desesperado de um presidente que jogava a última cartada num mandato que começara em setembro de 2018 e levava dois anos e meio de problemas. Na apresentação, no dia 5 de março de 2020, o treinador perguntou: «As pessoas perguntam: E se corre mal? E eu pergunto: E se corre bem?» Correu bem em 2020/2021 e volta a correr muito bem em 2023/2024, com nova conquista do título nacional - e ainda a Taça de Portugal em jogo, final com o FC Porto, dobradinha na mente do leão, feito que os verdes e brancos não conseguem há 22 anos, desde 2001/2002.
Interesse internacional
Estes quatro anos de Amorim em Alvalade são tão marcantes que despertam o interesse no treinador além fronteiras. Não são apenas os cinco troféus que conquistou para o Sporting - dois campeonatos, duas Taças da Liga e uma Supertaça Cândido de Oliveira -, é também a identidade da equipa, a forma de estar e comunicar que levaram clubes como o Liverpool e o West Ham a sinalizarem o técnico português de 39 anos. Com os londrinos, que esta segunda-feira anunciaram oficialmente a saída de David Moyes no final da época - Julen Lopetegui é apontado como o sucessor -, a reunião em Londres a 22 de abril, antes do clássico com o FC Porto que terminaria 2-2, causou muita polémica mas poucos frutos trouxe, obrigando o treinador a pedir desculpa, embora sem nunca esclarecer se continuaria em Alvalade para cumprir o contrato até 2026.
Deixando a dúvida no ar
As semanas passaram, o Sporting já é campeão e Amorim já brinca com a situação. «Malta, vamos despachar isto que tenho um avião amanhã bem cedo para apanhar. Se calhar é muito cedo para esta piada. Tinha-a preparada», brincou o técnico na madrugada de segunda feira, já no Marquês de Pombal. E foi aí que atirou: «Diziam que só éramos campeões de 18 em 18 anos, que só ganhámos porque não tínhamos público [em referência ao título de 2020/2021, conquistado em pandemia] e que jamais seríamos bicampeões outra vez… vamos ver.»
Apelo dos adeptos
O apelo dos adeptos na segunda-feira de madrugada foi mais um capítulo na campanha Fica, Amorim. O pedido feito em forma de cântico no Marquês aconteceu desta vez não espontaneamente, como tem acontecido em Alvalade, mas a pedido de um jogador e logo o capitão de equipa Sebastián Coates, que de microfone na mão - o mesmo que o treinador, no final da declaração, deixou cair ao estilo do célebre mic drop, gesto popularizado por rappers e comediantes, a partir dos anos 80 nos Estados Unidos, no final das atuações, simbolizando triunfo - meteu os milhares de sportinguistas a cantar «fica, Amorim»!
Vontade da administração
Por parte da administração, Amorim sabe que contará com o esforço para lhe oferecer as melhores condições desportivas para uma nova temporada de sucesso a nível interno, com o bicampeonato como objetivo, e também na Europa, com uma equipa competitiva para encarar a Liga dos Campeões. Por isso tudo fará para segurar os jogadores que o treinador considera intocáveis e que se perspetiva que sejam atacados no mercado: Gyokeres e Gonçalo Inácio. Para fazer encaixes, surgem à cabeça Diomande e Edwards. Os reforços estão identificados, serão cirúrgicos mas com forte investimento. Um guarda-redes, um central (Debast, belga do Anderlecht, está encaminhado), um extremo e um avançado (Ioannidis, grego do Panathinaikos, é alvo) vão chegar a Alvalade. Para ajudar Amorim a atacar o bi.
Da noite de festa no Marquês
Da noite de festa no Marquês, pela conquista do título nacional, ficou no ouvido a última frase de Rúben Amorim no discurso que do alto do palco fez aos sportinguistas: «Diziam que só éramos campeões de 18 em 18 anos, que só ganhámos porque não tínhamos público e que jamais seríamos bicampeões outra vez… vamos ver.» O treinador leonino não disse efetivamente se ficava no Sporting, deixou a possibilidade no ar. Mas apurou A BOLA que o técnico vai mesmo continuar em Alvalade para tentar o bicampeonato.
Amorim fica
Está prestes então a terminar uma novela que há semanas alimenta as dúvidas dos sportinguistas. E se dúvidas havia, o apelo dos jogadores, dos adeptos e a festa que pintou as ruas e praças da capital e de outras cidades, vilas e aldeias de Portugal e além fronteiras também ajudaram a cimentar esta unidade e a continuidade do treinador.