Ao chegar ao aeroporto do Porto, Abel Ferreira comentou sobre as temporadas de SC Braga, Benfica, Sporting e FC Porto. Embora admita que não tem acompanhado de perto o futebol português, o treinador do Palmeiras reconhece a qualidade dos clubes e o trabalho realizado por eles.
"Vou ser muito sincero, não tenho acompanhado muito o futebol português. Sei que o SC Braga está muito bem, que investiu muito este ano e que conseguiu entrar na Liga dos Campeões. É um clube de que eu gosto. O Benfica, no ano passado, fez uma época absolutamente extraordinária. Este ano, ainda vamos no início, muita água vai rolar debaixo da ponte, ainda não há campeões. O Sporting sempre muito forte e bem organizado, com esta estrutura que entrou, com o Varandas, o Hugo (Viana) e o Rúben (Amorim). Têm feito um Sporting mais unido. E o FC Porto, do Sérgio Conceição, é aquela máquina competitiva", afirmou Ferreira.
Apesar de estar distante, Abel Ferreira reconhece o esforço dos clubes portugueses em alcançar o sucesso, considerando os recursos financeiros limitados em comparação com outras ligas europeias. Ele mencionou as altas vendas de jogadores realizadas pelos clubes portugueses e a disparidade salarial.
"Tendo em conta os recursos financeiros do futebol português, o que os clubes fazem é absolutamente extraordinário quando comparamos os orçamentos, que não são compatíveis com a grandeza das vendas que fazem. Lá (no Brasil), perguntam-me ‘Professor, como é que é possível em Portugal vender-se facilmente jogadores por 40, 60 ou 100 milhões de euros e os jogadores recebem tão pouco salário?’ Essa não é a minha responsabilidade, mas eu já notava isso. Acho o valor das transferências um absurdo. Deve ser mais repartida por todos, é a minha opinião", destacou Ferreira.
Sobre as chances de um clube português vencer a Liga Europa, Abel Ferreira acredita que é possível sonhar, mas ressalta que o futebol é imprevisível.
"O futebol é um jogo de probabilidades. A probabilidade de uma equipa portuguesa ganhar um troféu internacional é pouca, mas há. Os clubes têm de se agarrar com unhas e dentes a essa probabilidade que têm. O dinheiro não ganha, mas ajuda a ter bons recursos. Quem tem melhores recursos e um bom investimento aproxima-se do sucesso. O futebol é como uma empresa. Se eu deixo de investir, começo a ficar mais longe. Se continuo a investir, fico mais próximo, mas não há garantias de nada. Se fosse assim, o PSG tinha sido campeão europeu nos últimos dois ou três anos", explicou o treinador.
Abel Ferreira também elogiou a forma como o futebol português prospera mesmo com recursos limitados. Ele destacou a qualidade da Seleção Nacional, a ascensão do futsal e o sucesso da Seleção Feminina nos últimos anos.
"Às vezes as pessoas querem comparar o Brasil com Portugal. Portugal tem 10 ou 11 milhões de habitantes, o Brasil tem 200 milhões. O que nós fazemos aqui com tão poucos recursos, e falo por exemplo da nossa Seleção nacional, que acho que está no ponto rebuçado. Está no momento certo de jogadores, de maturidade, de experiência. Estou sempre a dizer lá que acredito que Portugal vai ganhar algo brevemente de que eles se orgulham tanto (Mundial). Portugal é um país muito pequenino, mas produz muito com os recursos que tem. Isso é fruto do trabalho dos dirigentes, dos treinadores, e dos jogadores. Sei que aqui, às vezes, há confusões sobre a arbitragem, mas há em todo o lado. Acho que quem está fora consegue ver melhor o que se faz dentro. Não somos grandes em tamanho, mas somos muito grandes em matéria-prima, e não se valoriza tanto o que se faz aqui. Faz-se um trabalho absolutamente extraordinário em Portugal e no futebol português. E não só, vemos o que o futsal tem feito nos últimos anos, vemos a Seleção feminina, que nem sequer existia há meia dúzia de anos e agora compete nos Campeonatos do Mundo… Fazemos muito com pouco.", finalizou Ferreira.