Tensão entre Crítica e Silêncio no Futebol Português

  1. Bruno Vicintin pede silêncio
  2. João Lobão critica sanções
  3. FC Porto multado em 15 mil euros
  4. APAF pode ser vista como amuada

No cenário atual do futebol português, a tensão entre crítica e silêncio é palpável, refletindo-se nas atitudes de clubes e dirigentes. Bruno Vicintin, presidente da SAD do Santa Clara, expressou claramente o clima de receio que envolve as decisões no desporto, afirmando: “Eu e todos do Santa Clara vamos, por ordem minha, permanecer em silêncio, já que tenho medo de que, se falar o que penso, o nosso clube possa ser ainda mais prejudicado do que já foi.” Esta declaração sublinha o temor crescente entre os clubes em relação às repercussões de pronunciamentos públicos, especialmente após decisões controversas em jogos. Além disso, Vicintin anunciou que o clube planeia contestar decisões, solicitando a anulação da expulsão de Paulo Victor e a divulgação dos áudios do VAR e das imagens de fora de jogo relacionadas com um penálti controverso.

A necessidade de se manter em silêncio revela um problema sério: a percepção de que a crítica pode levar a sanções e represálias. Esta realidade é ainda mais evidente nas palavras de João Lobão, advogado especialista em direito desportivo. Em um recente artigo, ele refletiu sobre a sanção aplicada ao FC Porto, que foi multado em mais de 15 mil euros após um comunicado crítico relativo a um incidente envolvendo o árbitro Fábio Veríssimo. Lobão argumenta que “punir quem critica, descreve factos ou anuncia o recurso aos meios legais disponíveis não protege a arbitragem. Fragiliza-a.”

A Crítica e a Arbitragem

O impacto dessa dinâmica vai além de um simples jogo ou decisão. O silêncio imposto pode levar a um ambiente em que a liberdade de expressão é severamente limitada. Segundo Lobão, a arbitragem não deve ser uma função intocável, mas, sim, sujeita a crítica: “Os árbitros são, convém recordá-lo, seres humanos, falíveis e mortais. Exercem uma função num contexto de enorme pressão mediática e emocional. Isso não os desqualifica - mas também não os coloca numa redoma imune à crítica.” Esta resistência à crítica é perigosa, uma vez que pode desencorajar a transparência e o debate saudável no desporto, pilares de qualquer sistema democrático.

A Imagem das Associações

Além do mais, esse problema não atinge apenas a relação entre clubes e arbitragem, mas também a imagem das associações responsáveis por regular o futebol em Portugal. Lobão critica o papel da APAF, sugerindo que, ao sancionarem comunicados críticos, legitimam uma visão restritiva da liberdade de expressão que colide com a Constituição da República Portuguesa. Observar como os clubes lidam com a crítica e como as instâncias disciplinares reagem a essa crítica é crucial para entender a dirigição do futebol em Portugal.

“Neste ritmo, corre-se o risco de a APAF deixar de ser percecionada como uma associação representativa e passar a ser vista, com inevitável ironia, como a Associação Portuguesa dos Amuados do Futebol - excessivamente sensível à crítica e pouco disponível para aceitar o contraditório,” conclui Lobão.

A Situação Crítica

A situação é crítica. Enquanto os clubes como Santa Clara assumem uma postura de resguardo, temendo consequências de sua autonomia, a liberdade de expressão, braçada pelo direito de crítica, está se esvaindo. Sem dúvida, os clubes devem encontrar um equilíbrio entre a preservação do seu interesse institucional e a necessidade de um debate aberto e honesto, sem censuras ou repressões.

O fortalecimento da arbitragem passa pela capacidade de ouvir e aceitar críticas construtivas, em vez de silenciar vozes que desejam expressar revolta ou descontentamento. A evolução do futebol português depende da coragem dos clubes e dirigentes para abordarem estas questões de forma transparente, promovendo um ambiente desportivo mais saudável e justo.