O que aconteceu na Assembleia Geral abortada do FC Porto só pode ser surpresa para quem tem andado desatento ao longo das últimas quatro décadas. O conceito de guarda pretoriana, uma prática constante no clube, foi mais uma vez evidenciado, mudando apenas os lugares-tenentes ao longo dos anos.
As eleições de abril no FC Porto trazem consigo a possibilidade real de Pinto da Costa ser derrotado, o que coloca o clube em estado de alerta, sítio e emergência. No entanto, os maiores interessados na continuidade de Pinto da Costa parecem não ser o próprio presidente, mas sim aqueles que gravitam em torno dele em busca de benesses.
Estas criaturas não lutam por ideais desportivos ou pelo clube, mas sim pela garantia de continuar a usufruir dos seus privilégios. A prática intimidatória da guarda pretoriana, que tem mais de 40 anos, tem deixado vítimas ao longo do tempo, desde jornalistas a adeptos de outros clubes e até mesmo portistas insuspeitos que se opõem à política do regime.
No entanto, parece que chegou o momento de dizer 'basta' no FC Porto. Os procedimentos que ocorreram na última segunda-feira já não são tolerados e os portistas terão a oportunidade de se pronunciar sobre assuntos importantes para o clube. Espera-se que este seja um primeiro passo que conduza a eleições verdadeiramente livres e participadas em abril de 2024, o que será sempre um sinal de vitalidade para o clube.
Há realidades que só são devidamente valorizadas quando nos afetam pessoalmente. Como diz o poema de Martin Niemoller, 'um dia, vieram buscar-me. Nessa altura, já não restava nenhuma voz, que, em meu nome, se fizesse ouvir.'