A divulgação dos resultados da auditoria forense à gestão do FC Porto nos últimos dez anos teve um impacto sísmico no universo azul-e-branco. Foi libertada força e pressão suficientes para gerar um sismo de proporções elevadas, e muito provavelmente formar-se-á um tsunami que mudará a face do que era dado como certo no clube.
A partir do momento em que foi «aberta a caixa de Pandora», as decisões que vierem a ser tomadas dentro da família portista serão sempre menos relevantes do que a intervenção do Ministério Público, que juntou os novos factos vindos a público à Operação Prolongamento, que investiga vários negócios de transferências de jogadores e altos responsáveis dos dragões.
Momento de viragem para o FC Porto
Os sócios do FC Porto, que há menos de um ano elegeram Villas-Boas presidente com 80 por cento dos votos, em detrimento de um passado de mais de quatro décadas recheadas de troféus, podem agora ser confrontados com uma realidade para a qual, creio, não estariam preparados: «e se o que for apurado na Justiça, com base na auditoria, atirar para o foro criminal o destino de quem se presumia intocável?»
Como será possível, ao mesmo tempo louvar uma parte do legado da gestão cessante, e abominar o resto? Em muitos casos, do Marquês de Pombal a Napoleão Bonaparte, o tempo realçou a obra deixada, e desvalorizou o resto; noutros regentes absolutistas, verificou-se o inverso, passando a ocupar na História o lugar daquele que não se pronuncia o nome.
O legado de Pinto da Costa
Como será avaliado, pelos portistas, o legado de Pinto da Costa? Será possível separar o trigo do joio, nos seus múltiplos consulados, e, porventura, mantê-lo blindado? O bom senso manda que, «até às conclusões da Justiça, não sejam tomadas decisões que depois podem ter de ser revertidas.»