Adaptação tranquila à Escócia
Bruna Lourenço, de 25 anos, deixou o Sporting no final da última temporada para rumar ao Celtic, de Glasgow. Após oito épocas e vários títulos conquistados ao serviço do clube verde e branco, a defesa-central portuguesa fez uma transição tranquila para o futebol escocês, onde tem tido um papel de destaque.
«Achei que ia ser mais complicado. Acabou por ser uma adaptação bastante tranquila. Com alguns altos e baixos, é certo, devido às grandes diferenças, nomeadamente ao nível do tempo, algo que afeta sempre um bocadinho a nossa forma de estar durante o dia. O verão foi bastante chuvoso, ultimamente tem estado mais algum sol, portanto as coisas estão um pouco melhores. Mas o frio também anda por aqui [risos]. Ainda assim, eu recuso-me a usar muitas camadas de roupa durante os treinos porque quero guardá-las para o inverno [risos]. Mas tem sido uma adaptação tranquila, tenho estado a jogar e isso era o mais importante na minha vinda para cá. No fundo, as coisas estão a correr bem», afirmou a jogadora.
Formação no Algarve e sucesso no Sporting
Bruna Lourenço iniciou a sua formação no Algarve, numa altura em que o futebol feminino em Portugal ainda dava os primeiros passos. «Foi uma fase muito bonita. E tendo em conta a evolução do futebol feminino em Portugal, agora, essa fase foi de uma diferença gigante para a atualidade. Mas acho que foi um caminho importante para mim. Jogar com rapazes foi muito bom, na altura ainda havia as equipas mistas.»
Após essa fase de formação, a jogadora rumou ao Sporting, onde esteve oito épocas e conquistou vários títulos. «Foi a minha grande realidade no que concerne a equipas no futebol feminino. Foi um caminho muito importante. Houve, obviamente, altos e baixos, épocas em que joguei mais e outras em que joguei menos, mas foi um caminho de crescimento individual, tanto a nível desportivo como pessoal.»
Conciliar estudos com futebol
Durante a sua passagem pelo Sporting, Bruna Lourenço conseguiu conciliar os estudos com o futebol. «Isso foi sempre algo que eu defini como prioridade. Nem os meus pais deixavam que fosse de outra forma [risos]. Acabei o 12.º ano de escolaridade já em Alcochete e depois fiz a minha licenciatura. Não acabei em quatro anos, acabei em quatro anos e meio ou cinco. Mas está feito e isso é o mais importante.»
Títulos conquistados no Sporting
Quanto aos títulos conquistados no Sporting, a jogadora destaca o primeiro campeonato e a última Taça de Portugal. «O primeiro campeonato foi importante porque, felizmente, tive um papel importante na equipa nessa época, apesar de ter-me lesionado no fim. Mas eu diria também a última Taça de Portugal, em 2021/2022. Na nossa primeira Taça de Portugal eu ia ser titular, mas lesionei-me no aquecimento, com toda a minha família e amigos lá... Pior dia da minha carreira? Talvez. Mas depois também acabou por ser um bom dia porque ganhámos e foi especial.»
Objetivo pessoal concretizado no Celtic
Esta época, Bruna Lourenço trocou o Sporting pelo Celtic, de Glasgow. «Estão a ser muito bons. Já estava a ser, mas depois de atingirmos a fase de grupos da Champions foi ainda mais especial. Jogar fora do país era um objetivo pessoal que eu tinha, concretizou-se esta época porque para ambas as partes seria o melhor, e a minha vinda para cá passava por desfrutar do futebol e ser feliz em campo. Isso está a acontecer, sinto-me cada vez melhor, a crescer individualmente e com a equipa, portanto, acho que por agora não posso pedir muito mais.»
Diferenças entre os campeonatos português e escocês
Quanto às diferenças entre o campeonato escocês e o português, a jogadora considera que «é um campeonato competitivo nas três equipas da frente, mas o fosso é maior que em Portugal. As equipas do fim da tabela são ligeiramente inferiores em relação às portuguesas. Isso é algo que também dá mérito ao crescimento das equipas portuguesas. Claro que em Portugal há duas ou três equipas que se destacam, mas há outras, do meio da tabela, que são capazes de roubar pontos às equipas da frente da tabela, algo que, de resto, aconteceu o ano passado. Aí, eu diria que o campeonato português é mais equilibrado até entre equipas de meio da tabela.»
Desafio da Liga dos Campeões
O Celtic está na Liga dos Campeões, num grupo com Chelsea, Real Madrid e Twente. Bruna Lourenço admite que «não havia grupos fáceis. Vamos ser realistas, nós seríamos sempre os underdogs de qualquer grupo. Sendo muito sincera, e tendo em conta os outros grupos, acho que até calhámos no melhor grupo. Obviamente que não vai ser fácil, mas também vai ser uma experiência muito boa para nós, que nos permitirá desfrutar da oportunidade e crescer enquanto equipa.»
Futuro e seleção nacional
Aos 25 anos, Bruna Lourenço ainda tem muito por conquistar na carreira. «Por agora, só penso no Celtic. Tenho dois anos de contrato e por enquanto será por aqui. Mas gostava muito de experimentar o futebol espanhol ou o inglês, porque são campeonatos de topo na Europa. Mas deixo isso para o futuro, até porque também nunca pensei em vir para a Escócia e aqui estou.»
Quanto à seleção nacional, a jogadora afirma que «foi obviamente um dos melhores momentos porque foi sempre um objetivo que tive e concretizá-lo tornou-se num dos melhores momentos da minha carreira. Eu nunca escondi que o objetivo individual passa sempre por chegar à Seleção, infelizmente ainda não consegui essa consistência e assiduidade, mas é algo que continuo a procurar.»
Entrada do FC Porto no futebol feminino
Bruna Lourenço ficou ainda satisfeita com a entrada do FC Porto no futebol feminino em Portugal. «Obviamente que o FC Porto é um grande em Portugal e isso ainda intensifica mais essa importância. Até poderia ter acontecido mais cedo, mas acabou por ser agora e teve logo um impacto que ficou refletido no recorde de assistências num jogo amigável no Estádio do Dragão. Claro que ser um clube grande intensifica essa importância, mas acho que ficamos felizes por todas as entradas de clubes no futebol feminino.»
Expectativas para a seleção nacional
Quanto ao futuro da seleção nacional, a jogadora acredita que «vejo a nossa Seleção presente em todos os Europeus e Mundiais. Se, antigamente, seleções de grande nível olhavam para nós como uma seleção bastante inferior, isso agora já não acontece. Já jogamos olhos nos olhos com todas as seleções e isso foi visível no Mundial, com a nossa prestação. Acho que a partir daqui é só continuarmos a crescer e vêm aí muita qualidade nas gerações que estão a aparecer. Acho que podemos sonhar com grandes coisas.»