O treinador português Vítor Pereira foi até Riade ao encontro da equipa saudita Al Shabab, da qual é o novo técnico. A BOLA e o Maisfutebol acompanharam a sua chegada à casa onde vai viver esta temporada, junto dos seus adjuntos.
Vítor Pereira não esquece o seu passado e as conquistas alcançadas ao serviço do FC Porto, e nesta entrevista deixa claro que ainda tem metas a atingir na sua carreira. Para o treinador, o objetivo do Al Shabab passa por lutar pela competitividade da liga saudita, apesar do forte investimento de alguns clubes.
«Vamos lutar como um Vitória de Guimarães em Portugal»
«O campeonato saudita tem quatro equipas, claramente, com um investimento muito superior ao das outras equipas que é o Hilal, do Jesus, o Nassr, que era do Luís Castro, o Ittihad do Benzema, e Ahli que tem também jogadores de grande nível, até para a Europa. Depois temos aqueles clubes que são privatizados, como é o Quadisiya, que veio agora da segunda divisão, mas que também investiu muito dinheiro, e o Ettifaq que também é privatizado. Depois há as outras equipas, entre as quais está a nossa, que estão à espera de privatização, mas que, no entanto, temos de fazer pela vida… Nós fizemos uma boa equipa este ano. Tivemos sorte mesmo nos últimos dias de mercado, porque vendemos um jogador, o lateral-esquerdo. Com essa venda ao Hilal conseguimos dinheiro que nos permitiu ter um 11 mais ou menos competitivo para a realidade do clube. Portanto, eu falei de seis equipas. Depois há o resto… Parecem dois campeonatos. Há coisas a rever para tornar o campeonato mais competitivo e diminuir este fosso de uns para os outros. Nós vamos lutar. Acredito que com os quatro do PIF é complicado, mas vamos lutar como um Vitória de Guimarães em Portugal», afirma Vítor Pereira.
Melhoria das condições de trabalho
Vítor Pereira reconhece que a Arábia Saudita está muito diferente da sua primeira passagem pelo país, em 2013/2014, quando treinou o Ahli. «Sim tenho de reconhecer que quiseram evoluir em muitos aspetos, lembro-me que há 12 anos, as condições de trabalho, essencialmente dos relvados e dos estádios não eram boas. Agora há muitos relvados melhores do que em Portugal. Depois a qualidade dos jogadores, evidentemente, pois o investimento é muito maior, o número de estrangeiros passou para mais do dobro. Neste momento, podemos ter 8 estrangeiros, mais dois sub-23. São 10 estrangeiros. No meu tempo, tínhamos quatro. O nível de estrangeiros aumentou muito. A arbitragem melhorou também e há muitos árbitros estrangeiros a virem de fora apitar aqui e o nível dos árbitros sauditas também evoluiu. A organização dos clubes apesar de terem evoluído, tem de se dar mais uns passos.»
Investir na formação
Para Vítor Pereira, a Arábia Saudita precisa de apostar mais na formação de jogadores e treinadores locais. «Têm de rever este investimento dos fundos para criar mais aproximação entre os clubes. Têm de diminuir o fosso, para que a liga seja mais competitiva e para que não se assista ao que se passou no ano passado em que todas as finais foram jogadas entre o Hilal e o Nassr. Para que o futebol saudita evolua eles têm de investir nas academias, claramente, e na formação dos jogadores, e dos treinadores. É um investimento que, tem de ser feito, se não acontece como na China: olham só para o topo da pirâmide e esquecem-se da base. Precisam rever as equipas sub-23 pois deixou de haver esse campeonato.»
Um mercado atrativo para treinadores
Vítor Pereira acredita que a liga saudita já não é apenas um destino para treinadores em final de carreira. «Antigamente os treinadores que vinham estavam em final de carreira e, dizia-se, para a reforma dourada. Neste momento é diferente, um treinador da liga inglesa vem treinar na Árabe Saudita e volta para a liga inglesa outra vez. Sinceramente, tenho visto muitos treinadores que vêm cá, depois saem e vão para ligas importantes.»
A motivação de Vítor Pereira
Vítor Pereira revelou que a sua motivação para vir para a Arábia Saudita não passa apenas pelo dinheiro. «Não, não. Durante muito tempo justificava a minha vinda para o estrangeiro no sentido de ter oportunidade de garantir o futuro financeiro dos meus filhos. Até que, um dia, o dinheiro já chegava para o futuro deles e para o futuro dos filhos deles. E eu continuava a vir para fora. Portanto, a verdadeira razão de eu vir é por...»
Objetivo: voltar a uma grande liga europeia
«Sinto que tenho de chegar a uma grande liga europeia», afirma Vítor Pereira. O treinador português dá a entender que ainda tem objetivos a cumprir na sua carreira, apesar de todas as conquistas já alcançadas.
Vítor Pereira e a «droga» de treinar
O técnico do Al Shabab revelou que não consegue ficar muito tempo sem treinar. «Vim porque prefiro, para não cometer erros de decisão de carreira. Eu cheguei à conclusão que esta droga que eu tenho, que é uma droga, que eu ainda não consegui desmamar, faz com que não consiga estar muito tempo sem treinar. Os meus erros em termos de decisão de carreira têm sido sempre naqueles momentos em que estou fora e começo a perder a paciência. E, depois às vezes não vou para os projetos que devo ir. Eu prefiro estar no ativo, a experimentar coisas novas, porque o futebol para mim é a expressão criativa, aquilo que eu tenho dentro de mim e que tenho necessidade de criar constantemente coisas novas, exercícios novos, formas de jogar… Em vez de eu estar a criar do ponto de vista teórico, prefiro criar algo e experimentá-lo.»