Miguel Ribeiro, presidente da SAD do Famalicão, abordou as complexas dinâmicas do futebol português e as ambições do seu clube durante o congresso internacional da Associação Nacional de Dirigentes de Futebol, Futsal e Futebol de Praia, em Matosinhos. Com uma visão pragmática, Ribeiro não poupou críticas à falta de união no desporto-rei nacional, um fator que considera impeditivo para o progresso e para a tomada de decisões cruciais.
A sua intervenção destacou a necessidade de os líderes das principais instituições do futebol assumirem a responsabilidade de conduzir os destinos da modalidade. Ribeiro sublinhou a importância de questões como a centralização dos direitos televisivos e a problemática da arbitragem, identificando estas áreas como prioritárias para o desenvolvimento e valorização do futebol português.
União no Futebol Português: Uma Realidade Distante
Miguel Ribeiro foi categórico ao afirmar que a união entre os clubes e estruturas do futebol português é uma meta distante. Segundo o dirigente do Famalicão, “O futebol português nunca esteve unido e não vai ser agora que vai estar”. Esta perspetiva reflete a dificuldade em encontrar um consenso entre os diversos intervenientes, algo que, na sua opinião, prejudica o futuro do desporto.
Para Ribeiro, a responsabilidade de inverter este cenário recai sobre os principais responsáveis, nomeadamente os líderes da Federação Portuguesa de Futebol e da Liga Portugal. Ele defende que “caberá aos líderes da Federação e da Liga, Pedro Proença e Reinaldo Teixeira, conduzir os processos”, impulsionando a necessária colaboração e a tomada de decisões estratégicas.
Centralização de Direitos Televisivos e Arbitragem: Desafios Urgentes
A centralização dos direitos televisivos é, para Miguel Ribeiro, um tema que exige atenção imediata para que o futebol português possa competir em melhores condições. A par desta questão, a arbitragem surge como um dos maiores obstáculos. Ribeiro citou um estudo recente para substanciar a sua preocupação, referindo que “hoje saiu um estudo que demonstra que Portugal está em primeiro lugar onde não deveria de estar, no campeonato com mais faltas”.
Esta realidade, segundo o presidente do Famalicão, “merece ser estudada em profundidade, porque tira espetáculo e valor de marca, pelo qual deveremos lutar”. A excessiva interrupção do jogo com faltas não só diminui a qualidade do espetáculo, como também desvaloriza o produto futebolístico português, algo que urge reverter.
Formato da Taça da Liga e a Redução da I Liga
Relativamente ao formato da Taça da Liga, Miguel Ribeiro vê potencial na competição como uma plataforma para outros clubes ganharem destaque. No entanto, manifestou reservas quanto ao impacto económico, advertindo que “do ponto de vista económico, pode reduzir demasiado a competição”. A viabilidade financeira da prova é, portanto, um fator a considerar na sua estrutura.
Sobre a possibilidade de redução da I Liga, Ribeiro desafiou os críticos a fundamentarem as suas opiniões com estudos concretos. Na sua perspetiva, “para quem tem responsabilidades, dar apenas opiniões é muito pouco”. A tomada de decisões desta natureza deve basear-se em análises aprofundadas e dados concretos, e não meras opiniões infundadas.
Famalicão: Otimismo e Ambição Europeia
Transitando para a realidade do Famalicão, Miguel Ribeiro demonstrou otimismo com a sétima posição alcançada na última temporada. O clube está empenhado em reforçar o plantel, procurando no mercado as peças necessárias para colmatar saídas. Segundo o dirigente, “Estamos a olhar para o mercado. Temos algumas saídas que vão impactar nas entradas. Estamos atentos e a trabalhar”.
Pela primeira vez em anos, o Famalicão foca-se em ajustes pontuais em vez de reestruturações completas, o que demonstra uma maior estabilidade. Ribeiro reiterou a ambição europeia do clube, apesar de ainda não a ter concretizado. Na sua opinião, “Quem está cinco épocas no top 8 está a bater à porta”, expressando a esperança de que a próxima época seja a da afirmação europeia para o Famalicão.
Gustavo Sá e Saída de Enea Mihaj: Gestão do Plantel
Em relação a Gustavo Sá, jovem promessa do clube, Miguel Ribeiro salientou o seu valor e experiência, apesar da idade. “É um jogador de muito valor. Tem 20 anos e três épocas a titular na I Liga”, afirmou. Apesar do interesse de clubes maiores, Ribeiro garantiu que Sá está feliz no Famalicão e com contrato válido até 2029, ressalvando que “Está feliz em Famalicão, tal como o clube com ele”.
Por outro lado, a saída do defesa central Enea Mihaj foi confirmada. Ribeiro desejou “toda a sorte ao jogador”, mas explicou que “sabíamos claramente que iria terminar” o contrato e que a renovação não foi equacionada, pois o clube possui outras opções que se encaixam melhor nos seus planos. A gestão do plantel do Famalicão foca-se em manter os jogadores chave e procurar alternativas que reforcem as áreas identificadas como necessitando de melhoria.
Reforços e Estabilidade Financeira
Para a próxima temporada, Miguel Ribeiro identificou a necessidade de reforçar o plantel para assegurar a luta por um lugar europeu. “Precisamos de uma ou outra alternativa no meio-campo, mais um defesa com a saída do Enea”, referiu. Este é um momento crucial para o Famalicão, que, segundo o presidente, está mais robusto e menos dependente do mercado.
Ribeiro enfatizou que “hoje, o FC Famalicão não está tão exposto nem dependente do mercado para continuar a sua rota e isso dá-nos muita tranquilidade". Esta maior solidez financeira e desportiva permite ao clube planear o futuro com mais confiança, procurando reforçar o plantel de forma cirúrgica para atingir os seus objetivos, nomeadamente a tão desejada qualificação para as competições europeias.