A arte de liderar não se mede apenas pelos resultados imediatos, mas sobretudo pelo olhar arguto que sabe ler o tempo e, nele, antever os contornos de um futuro que escapa à maioria.
Esta reflexão aplica-se à decisão de António Salvador, presidente do SC Braga, numa fase tão inicial e decisiva da temporada, de abdicar de Daniel Sousa e confiar o comando da equipa técnica a Carlos Carvalhal. Uma decisão que demonstrou coragem, mas acima de tudo, uma sensibilidade rara e uma argúcia própria das grandes lideranças.
Além do óbvio
Muitos, num primeiro olhar - e apesar das exibições deixarem muito a desejar - consideraram a decisão precipitada. Afinal, quatro jogos (duas vitórias e dois empates) não são, à superfície, motivo para mudanças radicais. No entanto, a profundidade da decisão de António Salvador reside, precisamente, na sua capacidade de ver para além do óbvio, de perceber que, nas entrelinhas desses resultados, havia algo que não ressoava em harmonia.
Ao escolher Carlos Carvalhal, um homem cuja ligação ao clube transcende o mero profissionalismo, António Salvador não procurou apenas um treinador. Procurou um símbolo, uma referência, um reencontro com a visão do Braga como Clube Formador por excelência, apostando num líder sem medo de lançar jovens, de os ensinar, de os potenciar e fazer crescer e, mais importante ainda, com os valores que constituem a identidade bracarense, o que revela uma estratégia que não se limita à época em curso, mas se estende, com sabedoria e ambição, para os desafios do futuro.
Dois jogos, duas vitórias
A aposta, ousada, resultou, até ao momento, em pleno. Dois jogos, duas vitórias. Ainda que, diga-se em abono da verdade, sem deslumbrar, o que, convenhamos, é natural.
Sem querer crucificar Daniel Sousa, não o merece, a verdade é que Carlos Carvalhal é um dos melhores treinadores portugueses, tem muito mais experiência, muito mais mundo e dá outras garantias. Ademais, é um Senhor, um verdadeiro «Gentleman» e esses atributos, tantas vezes desvalorizados, contam e contam muito.
O futebol «À Moda do Minho»
A fechar, uma palavra de reconhecimento para o futebol «À Moda do Minho». Braga e Vitória venceram as suas Eliminatórias para a Liga Europa/Liga Conferência pelo que mantêm viva a ambição de disputarem as respectivas fases de Liga, facto de primordial importância para a Liga Portugal no plano europeu.