Uma infância marcada por dificuldades
Tiago Silva, médio do Vitória de Guimarães, teve uma infância desafiadora. Nascido em Lisboa, cresceu num bairro social na Picheleira antes de se mudar para as casas da câmara em Chaves. «Tínhamos dificuldades financeiras, vivíamos num bairro social, crescemos nas barracas e o meu pai teve de emigrar para juntar algum dinheiro. A minha mãe trabalhava o dia todo e então passava a maior parte do tempo com a minha irmã. A minha irmã estudava e quando saía da escola vinha ter comigo. Estudava e trabalhava ao mesmo tempo para nos dar algum folego», recorda o jogador.
Os primeiros passos no futebol
Apesar das adversidades, Silva começou a jogar futebol ainda criança, aos 8 ou 9 anos, graças à insistência do seu pai sportinguista. «O meu pai é sportinguista, e eu, quando era pequeno, era do Sporting. O meu pai forçava tudo para eu jogar no Sporting, e um dia, a minha família é quase toda benfiquista, fomos a um café, e o dono do café era o presidente de um clube, perto do nosso bairro, que era o Sport Lisboa e Olivais. Em conversa, o meu pai falou com o senhor, e disse, "olha, meu filho até tem jeito para a bola, se pudesse ir lá dar uns toques"…E o senhor disse, "leve lá o miúdo", e o meu pai levou-me e ele disse "vai ficar aqui connosco".»
A formação no Benfica
Após um breve período no Sport Lisboa e Olivais, Silva ingressou no Oriental, clube do seu bairro, antes de ser integrado nas camadas jovens do Benfica. «Fui para o Olivais, graças a Deus, porque era filial do Benfica. Fizemos um jogo contra o Benfica, correu muito bem, e o Bruno Maruta, na altura, disse para eu ir fazer captações. No mesmo dia que fui fazer captações, foi o Bruno Gaspar, que joga comigo hoje na Vitória, e aí, no meio de 50, 60 miúdos fomos os únicos dois que ficámos no Benfica, até hoje.» Silva recorda com carinho os tempos de formação no Benfica, quando fazia as viagens de transportes públicos para os treinos nos Pupilos do Exército. «Ia de transportes, sem passe, não tinha dinheiro para comprar o passe, então andava ali meio foragido. E fui-me safando assim. Depois, numa altura, o Benfica também me forneceu algumas possibilidades para me facilitar a ida para o treino, e arranjaram-me um motorista, que era um senhor que vivia no mesmo bairro que eu, e já tinha a ligação ao Benfica, tinha trabalhado lá.»
A vida escolar e a namorada
Após a mudança para o centro de treinos do Seixal, Silva manteve-se na mesma escola, onde conheceu a sua atual esposa, Mónica. «Íamos em grupo. Quer dizer, encontrávamo-nos no barco. Por exemplo, o Bruno Varela, como vivia ali em Loures, também apanhava o metro e passava por mim, o Ivan Cavaleiro também, parecíamos um grupinho. Tínhamos um rapaz também, que agora joga no Belenenses, que era o Hélio. Íamos quase sempre os quatro juntos, ali na linha vermelha. Íamos até ao Cais do Sodré, depois ali é que nos juntávamos todos, apanhávamos o barco à mesma hora. E aí éramos dez, doze no barco, de cima e para baixo. Top.»
Foco nos estudos e apoio do Benfica
Apesar das dificuldades, Silva sempre foi um bom aluno, algo que lhe foi incutido pelo pai. «O meu pai sempre me disse, "se não tiveres boas notas, não vais jogar futebol". Mas acredito que aquilo era só um boosting para me dedicar por aquela nota. Sabia que aquela era a minha paixão, não ia privar-me de jogar futebol por não ter boas notas. Mas eu também sempre fui um aluno dedicado.» Embora nunca tenha sentido uma pressão direta do Benfica para manter boas notas, Silva reconhece que o clube facilitou a sua saída mais cedo da escola para poder treinar. «A única coisa que me lembro, tenho assim na memória disso, foi a autorização para eu sair um bocadinho mais cedo para poder treinar, desde que isso não comprometesse a minha aprendizagem.»
O filho adepto do Vitória
Atualmente, Silva é pai de dois filhos e vive em Guimarães, onde joga pelo Vitória. O seu filho mais velho, com apenas 1 ano e pouco, já é um grande adepto do clube minhoto. «Ele está numa creche em Guimarães e ali é tudo do Vitória, não há outra opção. Ele já era um bocadinho antes de ir para a creche, porque ele só entrou com um ano e pouco, e já era muito do Vitória. Não sei porquê porque nunca incutimos isso. Ele ia ao estádio e não percebia, mas ele aqui pedia para meter vídeos do Vitória. Sabe o hino de cor, se perguntarmos quem é o maior é o Vitória. É tudo Vitória. Ele já tem noção do que faço, na escola só falam no Vitória. O dono da creche já foi vice-presidente do Vitória e na escola diz "o meu pai é o Tiago Silva", muito orgulhoso disso.»
Superando as dificuldades
Apesar das dificuldades da infância, Silva conseguiu alcançar o seu sonho de se tornar jogador profissional, tendo passado por clubes como Belenenses, Feirense, Nottingham Forest e Olympiakos antes de chegar ao Vitória de Guimarães. «Eu sabia que o bem-estar da minha família dependia muito do meu sucesso. Porque como o meu pai é eletricista, claramente não ganha muito dinheiro, a minha mãe trabalha numa loja de roupa há muito tempo e não tem um salário bom. A minha irmã estudava e trabalhava numa loja de roupa, tinha de conciliar as duas coisas, e como part-time também não ganha grande coisa. Eu sabia que nós vivíamos numa casa da Câmara, eu sabia que se não fosse eu, dificilmente eles iam conseguir melhorar a vida deles. Por isso isso foi, sem dúvida alguma, bom para mim.»