Um «casamento feliz» com o Benfica
Na semana passada, o mundo do futebol despediu-se de uma das suas figuras mais carismáticas, Sven-Goran Eriksson. Entre os muitos elogios, duas notas dominantes se destacaram: a sua capacidade enquanto treinador, mas acima de tudo a elegância e a forma de estar do treinador sueco, que cultivou amizade e simpatia por onde quer que passasse. O autor acredita que a passagem de Eriksson pelo Benfica foi um dos «casamentos mais felizes da história do clube».
Pessoas como Eriksson não se limitam a passar por clubes ou a passear pelo futebol. No caso do sueco, a sua entrada na história do Benfica fez-se não apenas pelos títulos conquistados, mas também pela forma como conviveu na arena futebolística portuguesa, e, não menos importante, pelo seu contributo para a construção de um Benfica ainda maior do que antes da sua chegada. Um Benfica que se faz respeitar dentro e fora de campo. Um Benfica que honra os seus pergaminhos enquanto instituição que fez história fora do relvado, que cumpriu uma função social muito para lá do futebol, e se notabilizou, ao longo de 120 anos de história, por emprestar a sua aura a um pequeno país que, com o Benfica, se tornou sempre maior.
Entre o «lirismo» e o «pragmatismo»
Segundo o autor, há quem hoje veja na história do clube um recurso lírico e entenda que o apego a um conjunto de princípios orientadores da ação e da instituição nos afasta da vitória, e que, como tal, é um obstáculo ao engrandecimento do Benfica. Estas não são pessoas que querem reescrever a história. São pessoas que, aparentemente, não querem saber da história para nada. O autor admite a boa intenção de quem assume essa postura, mas não concorda com essa visão.
Após a saída de Roger Schmidt, ganha força uma corrente pragmatista segundo a qual o treinador mais preparado para o Sport Lisboa e Benfica é Sérgio Conceição. O autor não vai discutir os méritos do treinador, mas, nas palavras de quem discorda, é só porque o «lirismo» o impede. O autor assume-se «lírico» e afirma que olhar para Sérgio Conceição e ver um treinador aliado a uma cultura de dirigismo que representa o pior do futebol, um treinador expulso 24 vezes ao longo da sua carreira, com alguns dos comportamentos mais lamentáveis, e alguém que desrespeitou demasiadas vezes o Benfica, não é lirismo, mas sim uma visão realista.
Proteger a identidade do Benfica
O autor afirma que considerar a contratação de alguém como Sérgio Conceição é ser o contrário de um clube que nos envaidece. É toda uma ideia de Benfica que o autor se recusa a aceitar. É, também, um clube acometido de um desespero palpável. Os contextos adversos devem fazer-nos equacionar quais os melhores caminhos para regressar às vitórias, mas seria prudente não nos desviarmos de um respeito mínimo pela instituição que apoiamos e corporizamos. Há caminhos que poderão eventualmente aproximar-nos da vitória, mas produzirão um importante colateral: uma certa perda de respeito por nós mesmos.
Rui Costa e a identidade do Benfica
O autor acredita que o presidente do Benfica, Rui Costa, jamais contrataria alguém como Sérgio Conceição, pois isso seria «uma punhalada na identidade do Benfica». Não acredita que Rui Costa fizesse isso ao clube, pois, independentemente das críticas que lhe tem dirigido, é bom que um mínimo de bom senso exista em quem lidera um clube como o Benfica. Proteger uma instituição das piores decisões possíveis, como esta que agora se discute, não é um pormenor. É também aquilo que mantém a instituição viva e a torna mais respeitável.
Rejeitar quem não nos pode representar
Por fim, o autor confessa-se «lírico» e afirma que é «verdadeiramente assustador que tantos adeptos vejam a possibilidade com bons olhos». Contratar Sérgio Conceição seria uma «punhalada na identidade do Benfica». Não consegue imaginar um treinador menos adequado para o clube. Só mesmo o desespero e uma crise existencial crescente podem explicar que essa hipótese seja considerada. Não devemos colocar aspas em palavras como valores, ética ou princípios. Devemos escrevê-las na pedra. Honrar os ases que nos honraram o passado, e rejeitar quem jamais nos poderá representar condignamente.