O julgamento do caso Banco Espírito Santo Angola (BESA) continua a dar que falar, especialmente no que diz respeito às transferências que este banco fez para o Sporting. A responsável pela auditoria solicitada pelo Banco de Portugal revelou, em tribunal, que várias operações com origem no BESA não foram devidamente explicadas ao Banco Espírito Santo (BES). Segundo Vera Pita, durante a sua declaração, “a maior parte das vezes em que são feitos pedidos de esclarecimentos ao BESA, não existe resposta ou existe resposta inconclusiva”.

Esta situação gerou preocupações entre os órgãos de supervisão, especialmente considerando que as transferências em questão foram dirigidas ao Sporting através de uma conta do BESA sediada no BES em Lisboa. “Não foi dada resposta” a um pedido formal do departamento de 'compliance' do BES para esclarecer quatro transferências significativas. Vera Pita destacou que o pedido não indica necessariamente irregularidades, mas sim que existem fatores de risco elevados a serem considerados, nomeadamente devido ao montante elevado das transferências e ao facto de se tratar de uma entidade desportiva.

Contexto das Transferências

A acusação do Ministério Público aponta que, entre 2011 e 2012, Álvaro Sobrinho, então presidente do BESA, terá ordenado a transferência de cerca de 15 milhões de euros para uma conta da Sporting SAD, utilizando fundos que lhe foram cedidos pelo BES para aumentar a liquidez do banco angolano. Esta prática levanta sérias questões sobre a gestão financeira entre as duas entidades.

Além das transferências para o Sporting, o processo apura um alegado desvio de fundos que ocorreu entre 2007 e 2012, ligando financiamentos entre o BES e o BESA a linhas de crédito do Mercado Monetário Internacional (MMI) e a descobertos bancários. Este desenrolar de eventos está a ser investigado em detalhe no tribunal, durante o julgamento que começou a 5 de maio.

Os Arguidos do Caso

Entre os cinco arguidos do processo encontram-se figuras proeminentes do setor bancário, incluindo o ex-banqueiro Ricardo Salgado, que, aos 81 anos, enfrenta problemas de saúde, incluindo Alzheimer. O seu antigo braço-direito, Amílcar Morais Pires, de 63 anos, é o único dos arguidos que já prestou declarações durante o julgamento. Todos os arguidos respondem por crimes de abuso de confiança, branqueamento de capitais e burla, embora neguem as acusações.

O caso é particularmente crítico, dado que envolve a falência do BES em 2014 e a subsequente liquidação do BESA em outubro do mesmo ano. O impacto destes eventos no futebol e na economia angolana e portuguesa é uma das muitas questões que ainda permanecem por esclarecer.

Impacto no Futebol Português

A ligação entre o BESA e o Sporting SAD levanta questões importantes sobre a transparência e a ética nas transferências financeiras no mundo do futebol. Os montantes envolvidos nas operações financeiras com o clube leonino têm gerado um clima de desconfiança que poderá ter repercussões no futuro da entidade e nas suas relações com instituições financeiras.

À medida que o julgamento avança, as revelações sobre as práticas financeiras do passado deverão ser cuidadosamente analisadas, uma vez que poderão ditar mudanças significativas na regulamentação financeira que envolve o desporto em Portugal. A vigilância sobre operações financeiras no futebol tornará ainda mais imprescindível, especialmente para garantir a integridade e a confiança no desporto.