Num mundo em que muitos jogadores parecem valorizar mais o salário do que a dedicação ao clube, a história de Daniel Bragança, do Sporting CP, serve de inspiração sobre a importância de manter a paixão pelo trabalho, independentemente das recompensas imediatas.
Num artigo de opinião intitulado "Nem tudo está à venda", o cronista Jorge Pessoa e Silva elogia a postura de Bragança, que mesmo sabendo ser tão bom ou melhor do que os seus colegas, soube "esperar sem desanimar ou reclamar, sem garantias de que o teu superior te vai um dia promover".
Aproveitar cada oportunidade
O autor destaca que Bragança "aproveitou cada oportunidade que o teu chefe te concede para provar que estás pronto e és competente, mesmo sabendo que no projeto seguinte serão outros os protagonistas". Além disso, manteve-se "leal com quem desempenha as funções que gostarias que fossem as tuas e para as quais te sentes mais do que capacitado".
Segundo o cronista, Bragança "se alegraste genuinamente com o bom trabalho e o sucesso dos teus colegas, enquanto aguardas, sem certezas, pela hora em que colherás os louros". E quando enfrentou uma "fase difícil que te impede de fazer o que mais gostas, recomeçaste sem vacilar e sem temer os riscos de ficar irremediavelmente para trás na tua empresa", usando "a provação para te conheceres melhor e voltar ainda mais capaz".
Humildade e determinação
Pessoa e Silva afirma que, "chegando finalmente a tua hora, mantiveste a humildade de saber que não chegaste a destino algum, continuas apenas a meio de uma viagem que nada te garante no futuro". Para o autor, se Bragança conseguir tudo isso, "mais do que um grande profissional, és um Homem".
O cronista reconhece que não sabe se Bragança chegou a este ponto de carreira "por ser alguém que usa os obstáculos como combustível ou apenas por ter muito bom feitio e paciência". No entanto, destaca que no ano em que o jogador parou para recuperar de "gravíssima lesão teve tempo e obstáculos suficientes para se confrontar consigo mesmo e testar os limites e convicções", voltando "mais forte".
Trabalhar para si próprio
Pessoa e Silva acredita que Bragança "tenha percebido desde sempre que, mais do que para uma empresa, todos nós trabalhamos em primeiro lugar para nós mesmos". Para o autor, "a aposta na capacitação profissional é um processo que deveria ser independente do sucesso ou reconhecimento", pois "a primeira, sendo essencial, nem sempre leva ao segundo, por muitas razões que não controlamos".
O cronista lamenta ouvir alguém dizer que "se a minha empresa não me valoriza e não me paga o que mereço, então também não estou para me ralar…", pois quem assim fala "não está a desrespeitar a empresa, está a desrespeitar-se a si próprio". Segundo Pessoa e Silva, "quem faz depender o esforço e a dedicação do nível do salário que lhe pagam ou dos projetos que lhes dão, seguramente ganha mais do que merece", enquanto "quem ama o que faz, a dedicação não é consequência, é pressuposto".
Recompensas mais importantes que o dinheiro
O autor conclui que, embora o dinheiro possa não chegar de imediato, "o respeito dos outros; gostar do que vemos ao espelho e uma noite bem dormida com quem temos de nos deitar todos os dias: a consciência" são mais importantes do que a remuneração.