Ouvir Rúben Amorim antes ou depois dos jogos é sempre um prazer para quem gosta de futebol. O treinador do Sporting tem conquistado a admiração de muitos pela forma franca e direta com que se expressa, concordando-se mais vezes do que discordando dele.
Mesmo não podendo dizer tudo, Rúben Amorim vai deixando transparecer muito, como aconteceu depois do empate com o PSV, em Eindhoven. Aí, reconheceu que «o resultado foi melhor do que a exibição» e deixou implícito que a responsabilidade pelas «escorregadelas» dos jogadores do Sporting não foi de mais ninguém senão deles próprios, por não se terem preparado devidamente para as condições do relvado: «Não é para todos».
O PSV expôs fragilidades do Sporting
Rúben Amorim também identificou os problemas que a sua equipa enfrentou frente ao PSV, assinalando que «a equipa esperava aquelas dificuldades e, no entanto, não foi capaz de as ultrapassar». De facto, o PSV «expôs fragilidades que ninguém em Portugal foi capaz de destapar», algo que dificilmente os rivitas - Benfica ou FC Porto - conseguirão fazer num futuro próximo.
Apesar de o Sporting continuar a ser «a equipa mais bem trabalhada em Portugal», com os jogadores a saber «de cor e salteado o que fazer e como fazer, quando fazer e porque fazer» - algo que é «mérito do treinador» -, a verdade é que «não é equipa perfeita» e o PSV, «mesmo não sendo da primeira linha do futebol europeu, deixou mais do que isso bem claro».
Problemas na construção de jogo
Um dos problemas evidenciados pelo jogo com o PSV foi a dependência da equipa em relação a Gyokeres. Com o avançado sueco ausente, «a equipa não o teve» e «faltou-lhe muito mais». Foi também «curioso ver que Rúben Amorim não encontrou solução para o bloqueio dos três homens da frente» - Trincão, Gyokeres e Catamo -, que «não tiveram muitas oportunidades de jogar de frente para os defesas até o jogo ficar partido, por volta dos 70', quando o PSV defendia com cinco ou seis e outros já não corriam para trás».
Ficou ainda claro que «não funcionou a saída a jogar de trás», com Debast, Inácio ou Quaresma a «serem submetidos a pressão para a qual não estavam preparados e cometeram erros graves». E no meio-campo, com Hjulmand e Morita recuados, «havia um buraco enorme sem alguém para ligar o jogo», algo que só Bragança conseguiu fazer na segunda parte, «beneficiando da desorganização do PSV».
O desafio da Liga dos Campeões
Esta época, «nenhuma equipa submeteu o Sporting a esta condição de não conseguir ligar o jogo e sair a jogar», algo que Rúben Amorim já experienciou na última participação do Sporting na Liga dos Campeões. «Na época passada, a Liga Europa foi uma bênção, os adversários permitiram a Rúben Amorim fazer a gestão que não se pode dar ao luxo sequer de pensar na Champions, pelo menos nos jogos seguintes, com o Sturm Graz fora e depois com Man. City e Arsenal em casa.»
Apesar disso, a «conquista do título será sempre a prioridade de qualquer equipa portuguesa», mesmo que Rúben Amorim já tenha afirmado que queria «fazer melhor do que na última vez que chegou aos oitavos de final» da Liga dos Campeões. Esta edição da Champions «permitirá perceber também se o plantel está equilibrado» - à primeira vista, Morita, Hjulmand e Daniel Bragança para dois lugares parece curto - e lidar com as «10 lesões desde o início da época», algo de que «Amorim não tem culpa».