A Difícil Adaptação de Ruben Amorim ao Manchester United
Quando se noticiou que Ruben Amorim poderia estar a caminho do Liverpool, ainda a época passada não tinha acabado, escreveu-se que Anfield talvez não fosse o destino mais apropriado para o português. Existiria uma herança tremenda e esmagadora a pairar sobre si, a dificuldade em implantar o seu sistema de sempre e, sobretudo, uma forma de pressionar que se tornou quase um modo de vida no clube, para o bem e para o mal.
No entanto, se naquele que nunca caminha sozinho a probabilidade de sucesso de Amorim parecia, a meu ver, algo reduzida, um Manchester United em crise contínua, órfão de Alex Ferguson há 12 anos, e que já viu David Moyes, Ryan Giggs, Louis van Gaal, José Mourinho, Ole Gunnar Solksjaer, Ralf Rangnick e Erik ten Hag serem incapazes de lhe devolverem os dias de glória, seria muito mais condescendente e paciente com alguém que sobretudo precisa de tempo para ganhar a confiança de todos com as suas ideias.
Um Clube em Crise
O Manchester United, que ainda olha para o espelho e se vê como gigante, não dá, por sua vez, ideias de estar preparado para admitir que tem um problema sério e que tem de se reinventar a todos os níveis, se bem se lembram da polémica entrevista de Cristiano Ronaldo a Piers Morgan. Com novos players a ter de mostrar serviço rapidamente, como Jim Ratcliffe e a INEOS, o tempo parece escapar-se-lhe entre as pontas dos dedos.
Fosse Liverpool ou United, Amorim seria sempre louco se recusasse a oportunidade. No entanto, pelo ruído que já causam o 14.º lugar e as derrotas sucessivas, precisa de que rapidamente todos visualizem o caminho. As principais figuras rapidamente e depois os outros. Primeiro nos treinos, depois nos jogos, para que os resultados o protejam até ao momento certo. O técnico nunca terá medido, acredito, a capacidade que uma Premier League, ao contrário da liga portuguesa, tem para penalizar o que não está bem. E olha-se para os onzes que vai apresentando e percebe-se que há ali apenas uma lógica possível seguida, que tudo está ainda muito longe de estar sequer perto disso.
Falta de Liderança e Conexão com os Jogadores
Não há no clube assim tantas individualidades que resolvam e mesmo essas têm dados tiros nos pés. Talvez tenham antecipado que, em breve, perderiam peso no grupo. Marcus Rashford, por exemplo, não encaixa no modelo e, aparentemente, também não fez por se ajustar à nova exigência. Garnacho idem. Entre os demais, Bruno Fernandes soma expulsões. Eriksen e Casemiro parecem de um século passado. Old Trafford tornou-se um redemoinho e a espiral acentua-se com a força da corrente que promete engolir a todos.
Um Currículo Pouco Impressionante
O Ruben que aterra em Manchester é alguém que traz na bagagem dois títulos de campeão nacional em quatro épocas inteiras de uma liga periférica como a portuguesa, mais coisa menos coisa. Para a realidade, mesmo para a atual, dos Red Devils, é um currículo magro. Não é estranho que haja resistência, que a mensagem não passe, que precise de mais tempo. Olhemos com atenção! Nota-se alguma relação emocional entre si e os seus jogadores? Arrisco dizer que não. Tal como João Pereira não as conseguiu criar. A a comunicação na sala de Imprensa, ainda que assertiva, por si só não mete os jogadores a marcarem golos.
Desafios Cruciais pela Frente
É certo que não perderá muito se também o enterrarem no cemitério de Old Trafford. Seria apenas mais um. Já o que o seu nome ganhará se acordar o gigante será esmagador. Só que para já, precisa de sobreviver. A cada jornada, sendo que a próxima, em Anfield, promete dores de cabeça. A um mercado, em que tem de fazer escolhas certeiras e contar com a boa-vontade de Rashfords e companhia para que aceitem sair e libertem espaço no plantel e capital para reinvestir. A um fecho de época condigno. E, aí sim, à reestruturação mais do que fundamental. Que poderá levar a outras, mais profundas e igualmente necessárias.