O julgamento da Operação Pretoriano, que investiga os desacatos ocorridos na Assembleia Geral do FC Porto em novembro de 2023, continua a revelar pormenores sobre o caos e a intimidação que marcaram o evento. Os depoimentos recolhidos em tribunal espelham a confusão vivida, com vários sócios a relatarem irregularidades na organização e coações na tentativa de documentar os incidentes.
As audiências têm posto a descoberto uma atmosfera de tensão e medo que pairava no Dragão Arena, levantando sérias questões sobre a segurança e a gestão de grandes eventos no clube.
Organização Deficiente e Longas Esperas
Miguel Alves, um dos sócios presentes e testemunha no julgamento, descreveu a desorganização que precedeu a entrada na Assembleia Geral. Segundo Alves, ““Bem organizado não estava, porque se estivesse não estaríamos três horas à espera para entrar. Vi seguranças a dar pulseiras à entrada do Dragão Arena e a permitir entrada de pessoas.””
Este testemunho aponta para falhas logísticas que contribuíram para o clima de insatisfação desde o início.
Atos de Intimidação e Censura
Os relatos de coação são recorrentes nos depoimentos. Miguel Alves contou que, ao tentar filmar os desacatos, foi abordado de forma intimidatória: ““Vi confusão, gente a correr para a bancada norte. Não vi o início da confusão, isso foi instantes antes de entrar. Comecei a filmar com o telemóvel e duas raparigas vieram ter comigo com exigências. A seguir, uns conhecidos delas tiraram-me o telefone e obrigaram-me a apagar os vídeos. Apaguei os vídeos à frente deles.””
Esta situação ilustra a pressão exercida sobre quem tentava registar os acontecimentos.
Outro associado, Miguel Marques, confirmou a atmosfera tensa e a intimidação, referindo que também foi alvo de coação ao filmar. Ao relatar o sucedido à polícia, foi-lhe dito que ““estava tudo captado pelas câmaras, que isso não era novidade nenhuma””
, o que levanta questões sobre a eficácia da monitorização.
Falhas na Vigilância por Câmara
A questão da vigilância ganhou destaque com o depoimento de Rui Martins, segurança responsável pelas câmaras. Martins admitiu em tribunal a sua responsabilidade na falha em capturar os momentos cruciais dos conflitos, explicando: ““Não me recordo ter mexido em nenhuma das câmaras, posso ter tocado no teclado sem querer.””
Esta confissão sugere a necessidade de reforçar os meios e o pessoal dedicado à videovigilância em eventos de grande dimensão.
Novas Evidências e a Busca pela Verdade
Um novo vídeo apresentado por Miguel Alves foi aceite pelo tribunal, na expectativa de que ajude a esclarecer os eventos. A presidente do coletivo de juízes, Ana Dias Costa, declarou: ““A filmagem poderá ajudar a esclarecer a descoberta da verdade. Defere-se e concede-se o prazo de três dias para o exercício do contraditório relativamente ao conteúdo da filmagem.””
A inclusão desta nova prova é vista como um passo importante para aprofundar a investigação e apurar responsabilidades na Operação Pretoriano.