Olha-se para o curriculum de Pepe e fica-se com uma dúvida: o que faz correr, ainda, este homem? Ouve-se a ‘flash’ no final do jogo com o Antuérpia e percebe-se: a tremenda paixão pelo jogo. Pelas várias dimensões que a palavra ‘jogo’ aqui encerra: a atividade, a pertença a uma equipa, a identificação com uma causa, a realização profissional e a satisfação pessoal.
As múltiplas histórias de final de carreira de jogadores de futebol têm – na esmagadora maioria - alguns pontos constantes: a dificuldade de adaptação a novos hábitos, a angústia da falta de rotinas, a falta de sentimento de pertença, do grupo, do balneário, a sensação de vazio.
Mas também há casos opostos: já não ter prazer na atividade, paciência para treinar, pré-disposição para o sacrifício (físico, familiar ou mundano) apressa, muitas vezes, a decisão de parar de jogar.
Competitivo como é, Pepe pode vir a sentir a falta de tudo quando o seu tempo acabar. Natural. privação.
Mas, garantidamente, não sente falta de motivação para treinar todos os dias, para superar lesões, para marcar os melhores adversários, para dedicar um golo à mãe, no dia do seu aniversário. Aos 40 anos e 254 dias!
Há nove anos, estava Pepe ainda em alta no Real Madrid, Francesco Totti marcou na Liga dos Campeões com 38 anos e 59 dias de idade. Nunca alguém com mais de 37 anos tinha feito um golo na prova. Parecia imbatível. Parecia… Ele que já era o mais velho jogador de campo a atuar na prova e o mais velho a marcar na fase a eliminar de um Mundial.
Pepe dirá sempre que os títulos que conquistou são o mais importante. Nada mais certo. O futebol é um desporto coletivo. E Pepe é um daqueles casos em que o destaque individual só faz sentido porque representa o sacrifício pela equipa. Também por isso merece estes recordes individuais, marcas que deverão perdurar por muitos anos.
Pepe é um ‘duro’. Em todos os aspetos. Já passou por muita coisa, teve excessos em campo, enfrentou críticas ferozes. Conseguiu dar a volta por cima. Como ele próprio disse, sabe que lhe resta pouco tempo; que se mantenha a este nível.
O provérbio mistura Portugal e Brasil. Tal como Pepe. A vida são dois dias e o Carnaval são três.
Já a carreira profissional de Pepe dá, pelo menos, 23 anos.