A morte de Pinto da Costa, aos 87 anos, gerou reações diversas no mundo do futebol português. Se por um lado, os adeptos do FC Porto lamentaram a perda de uma figura incontornável na história do clube, por outro, muitos outros adeptos e observadores do futebol nacional veem na figura de Pinto da Costa a personificação de uma cultura que se enraizou no desporto português nas últimas décadas.
Pinto da Costa presidiu o FC Porto durante 40 anos, período no qual o clube conquistou uma série impressionante de títulos nacionais e internacionais. No entanto, a sua liderança ficou também marcada por inúmeras polémicas, acusações de práticas antidesportivas e uma postura combativa e confrontacional perante os rivais, nomeadamente Benfica e Sporting.
A «cultura da malandragem»
Segundo o jornalista Vasco Mendonça, adepto do Benfica, a «cultura materializada por Pinto da Costa» tornou-se um «padrão a seguir» no futebol português, com muitos outros dirigentes a adotarem uma postura semelhante de «ódio aos rivais» e de «recurso a quaisquer meios para atingir os fins pretendidos».
Esta «cultura da malandragem», como lhe chama Mendonça, cristalizou-se de tal forma que se tornou socialmente aceite no futebol nacional. «Quantas vezes ouvi pessoas justificarem práticas dúbias no futebol com expressões como 'as coisas têm de ser assim', 'não podemos ser anjinhos', porque, se assim for, 'vamos ser comidos'», escreve o jornalista.
A «doença» no futebol português
Mendonça considera que Pinto da Costa «inventou um clube» e que aquilo que fez, «e sobretudo o modo como o fez, alastrou-se em forma de doença» no futebol português. Mais do que uma identidade clubística, a «cultura» por ele materializada tornou-se um «padrão a seguir, a forma correta de fazer as coisas».
O autor lamenta que esta «cultura da malandragem» tenha se tornado tão enraizada que «a distinção entre licitude e ilicitude perdeu-se pelo caminho» e que «a esperteza e a manha são tão importantes quanto o atleticismo e a vontade de competir» no futebol nacional.
O legado de Pinto da Costa
Mendonça acredita que o legado de Pinto da Costa é um «futebol em que quase ninguém aceita o resultado final de um jogo, um desporto seguido apaixonadamente por milhões, mas no qual poucos acreditam piamente no que veem». Segundo ele, foi Pinto da Costa quem «demonstrou que era possível recorrer a quaisquer meios para atingir os fins pretendidos» e que conseguiu «cristalizar como verdadeiro e lícito, até admirável, aquele que foi o seu percurso no desporto».
O jornalista reconhece que, apesar das críticas, muitos adeptos do FC Porto continuarão a ver Pinto da Costa com «carinho» devido aos sucessos desportivos alcançados durante a sua longa presidência. No entanto, acredita que os demais adeptos e instituições «não sintam o mesmo carinho por esta pessoa» e que «jamais venham a considerar imaculada uma herança deixada nestes termos».
Conclusão
Em suma, Pinto da Costa é visto por Mendonça como a «pior coisa que aconteceu ao futebol português», alguém que «fez tudo o que estava ao seu alcance para ser a melhor coisa que aconteceu aos portistas» mas que, no processo, «tornou-se a pior coisa que aconteceu ao futebol português».