A literatura foi o elo que permitiu a Rui Couceiro, editor da editora Contraponto, fomentar uma amizade improvável entre adeptos de clubes rivais, nomeadamente com Jorge Nuno Pinto da Costa, antigo presidente do FC Porto, cujo funeral decorreu na segunda-feira, dois dias após a sua morte.
Couceiro revelou que a sua relação com Pinto da Costa tinha quase sete anos e que se tornou mais estreita nos meses subsequentes à saída deste último da presidência do clube azul e branco. Apesar de terem colaborado em cinco livros juntos, Pinto da Costa passou a ter muito mais tempo para cultivar a amizade, o que fortaleceu este vínculo improvável entre um sportinguista e um portista.
Uma «morte muito amarga»
A morte de Pinto da Costa, aos 87 anos, vítima de cancro, no sábado, provocou «horas de tristeza» em Rui Couceiro. O editor da Contraponto conta que tentou contactar o antigo presidente do FC Porto no final da semana, mas não conseguiu falar com ele. Acabou por combinar um almoço com a filha de Pinto da Costa para esta semana, mas ficou «muito amargo» por saber da sua morte poucas horas depois desse encontro ter sido agendado, pois não teve a oportunidade de se despedir pessoalmente de alguém de quem gostava.
No domingo, Couceiro dirigiu-se à Igreja das Antas para participar no velório de Pinto da Costa, com quem tinha apresentado em outubro de 2024 a publicação mais mediática da Contraponto sobre o antecessor de André Villas-Boas, intitulada «Azul até ao fim», perante quase um milhar de pessoas na Alfândega do Porto.
Pinto da Costa, «um homem inteligente e de grande cultura»
Couceiro recorda Pinto da Costa como um «homem inteligente e de grande cultura», que tinha «um extraordinário sentido de humor e boa disposição, impressionava com uma memória assombrosa e revisitava histórias com amplo detalhe». Apesar de inicialmente ter uma «perspetiva meramente futebolística» do antigo dirigente, que lhe causava «tristezas a nível desportivo» por ser o «maior responsável pelos grandes êxitos do FC Porto», Couceiro acabou por encontrar «um homem com muitas qualidades».
Uma amizade em torno de conversas
A amizade entre os dois começou em 2018, por ocasião da apresentação do livro «O meu coração só tem uma cor», editado pela Contraponto e prefaciado por Pinto da Costa, num evento realizado no museu do FC Porto. Nessa altura, Couceiro, que é sportinguista, fez uma intervenção bem-disposta, referindo-se a Pinto da Costa como o responsável por grande parte das suas «tristezas futebolísticas». O antigo presidente do FC Porto terá achado graça à abordagem e aproximou-se de Couceiro, convidando-o para almoçar. Desde então, cultivaram uma amizade em torno de conversas sobre diversos temas, exceto sobre os livros que viriam a ser publicados pela Contraponto.
Pinto da Costa, que foi presidente do FC Porto durante 42 anos e 15 mandatos consecutivos, levou o clube à conquista de 2.591 títulos em 21 modalidades, incluindo 69 no futebol sénior masculino, sete dos quais internacionais.