O Mónaco é um lugar singular. Não é propriamente francês, apesar de rodeado por esse país, nem italiano, embora com ligações históricas. Também não é russo ou catarí, mesmo com os investimentos milionários que por lá chegam. É, por definição, monegasco, mas esse gentílico carrega uma exclusividade que não descreve totalmente um lugar tão multinacional como as empresas lá sediadas.
Portugal é uma das nações mais representadas no Principado, com mais de cinco mil portugueses a trabalhar no Mónaco, ainda que na maior parte dos casos a dita «exclusividade» (leia-se €xclusividade) empurre a sua residência para uma das três localidades francesas que aconchegam o microestado: Beausoleil, Cap-d'Ail e Roquebrune.
As fronteiras invisíveis
As fronteiras inicialmente parecem invisíveis, mas em poucas horas o olho fica treinado. É tudo muito óbvio, na realidade. Se houver um excesso de guardas fardados, alcatrão recém-renovado e uma loja da Dior, é o Mónaco; se em vez disso as ruas albergarem cafés, restaurantes e lojas mais ac€ssíveis, então está em França.
Se há uma grua, há lá portugueses a trabalhar, é a máxima mais do que uma vez empregue em conversa com o jornalista enviado pelo zerozero [aqui justifica-se um agradecimento a Carlos Ferreira, que gentilmente foi guia da portugalidade]. A frase vale muito, tendo em conta que o horizonte monegasco está carregado dessas gruas. E embora a construção civil seja historicamente um dos ofícios do emigrante português, esta comunidade é tão grande e versátil que pareceu autossuficiente. A esmagadora maioria é fluente em francês mas, se assim quiser, pode passar uma semana inteira sem nunca fugir à língua-mãe.
A influência portuguesa em Beausoleil
A comunidade portuguesa é tão prevalente em Beausoleil que há até um português, Jorge Gomes, a fazer campanha para chefiar a autarquia local - o próprio há uns anos fez o retrato de uma diáspora que não para de crescer.
Depois do almoço, mais do mesmo. Um café «Lusitano» (é mesmo esse o nome) rematou a refeição e ainda alimentou esta prosa com um par de histórias das que só surgem na voz de quem acompanha a cafeína com aguardente. Histórias como a dos 30 portugueses que acabaram a noite de 26 de maio de 2004 fechados numa esquadra monegasca por terem vagueado o Mónaco, rival do dia, em efusiva celebração de um FC Porto campeão europeu; ou o facto da avenida do tal café (Camille Blanc) ter sido já mais do que uma vez encerrada em dias com potencial para festas semelhantes.
A bandeira portuguesa orgulhosamente hasteada
Nada disto é surpreendente, mas não deixa de dar aquela sensação acolhedora. Mesmo num rochedo célebre por outras nacionalidades e valores que em parte contrastam com os lusos, a bandeira portuguesa arranja sempre forma de voar orgulhosa.