Grzegorz Mielcarski: Histórias da passagem pelo FC Porto nos anos 90

  1. Grzegorz Mielcarski jogou no FC Porto de 1995 a 1999
  2. Mielcarski foi eleito o melhor jogador do torneio anual da Invicta
  3. FC Porto conquistou a Taça dos Campeões Europeus, o Campeonato do Mundo, a Liga Europa duas vezes e a Supertaça Europeia uma vez
  4. Mielcarski recorda episódio comovente em que jogadores contribuíram para operação da filha de um colega

Chegada ao FC Porto


O antigo avançado polaco Grzegorz Mielcarski, que jogou no FC Porto de 1995 a 1999, recorda com saudade a sua chegada aos dragões. «Antes da temporada 1994/95, fui para o Widzew. Durante a primavera de 1995, recebi um telefonema de Józef Mlynarczyk a dizer que alguém do Porto viria observar-me nos dérbis de Lodz. Esse "alguém" era o treinador Sir Bobby Robson.»

Mielcarski estava numa forma «bastante mediana» e não acreditava que a transferência para o FC Porto se concretizasse. «'Não inventes, não vais conseguir nada, não há hipótese' – pensei, e não tinha grandes expectativas em relação ao jogo dos dérbis, por isso joguei contra o LKS sem qualquer pressão.» No entanto, a exibição foi convincente, com um golo seu na vitória por 1-0, e Robson quis falar com o avançado.

Primeiras impressões no FC Porto


Depois desse primeiro contacto, a transferência de Mielcarski para o FC Porto concretizou-se. «Cheguei ao estádio para o referido jogo do dérbi de táxi - o meu carro tinha sido roubado. Saí do carro e ouvi o som de flashes. Mais tarde, descobri que não podiam ser fotojornalistas polacos, porque nenhum deles tem este tipo de objetivas.»

Já no balneário, o polaco recorda as primeiras impressões: «O capitão era o lateral João Pinto, com mais de 30 anos. E pergunta: 'Bebes vinho branco?' Não. 'E tinto?' Também não. 'Uuuu... então não vais jogar no nosso país'. Depois perguntou-me que palavras conhecia em português. Eu não sabia praticamente nenhuma. Enumerou alguns palavrões básicos e ordenou: 'Tens até amanhã para os aprender'.»

Eleito melhor jogador do torneio anual


Pouco tempo depois, Mielcarski foi eleito o melhor jogador do torneio anual da Invicta, onde os adeptos podem ver os novos reforços do clube. «Fui eleito o melhor jogador do torneio, o melhor marcador foi Domingos Paciência, então o principal avançado da equipa. 40.000 pessoas aplaudiram-me e eu estava preocupado se seria capaz de jogar sempre assim.»

O polaco recorda que «mentalmente estava em alta na altura, era levado pela motivação, pela vontade de me mostrar, lutava por três, jogava sempre de forma agressiva, era forte».

Integração na equipa


Mielcarski revela que «ao fim de um ano e meio já estava a comunicar livremente em português». «O FC Porto trouxe o guarda-redes Andrzej Wozniak do Widzew. Fiquei contente, porque ia ter um compatriota, porque ia ter alguém com quem falar, porque ele ia estar no quarto comigo. Nada disso. Os nossos colegas não nos permitiam falar polaco, davam muita importância à integração na equipa.»

O avançado polaco recorda que «nunca me senti um estranho, nunca me pus de parte. 'Greg, vem juntar-te a nós, é a Festa da Sardinha', diziam-me por vezes. Convidavam-me para ir a casa deles, sentava-me à mesa e, apesar de não perceber nada, sentia-me à vontade.»

Episódio curioso sobre os salários


Mielcarski recorda ainda um episódio curioso relacionado com os salários no FC Porto. «Uma vez, durante um jogo de cartas, o Secretário perguntou-me: 'Quanto é que ganhas?'. Eu não queria dizer, na Polónia não se fala de dinheiro, pensei que estavam a gozar comigo. Não disse nada. No dia seguinte, o Secretário trouxe o seu contrato para o balneário e mostrou-mo. Quando me gabei do salário, começaram a rir-se. Mas sem qualquer malícia.»

Lesões e o trabalho do fisioterapeuta Artur


O antigo avançado polaco abordou também as lesões que o afetaram durante a passagem pelo FC Porto. «Infelizmente, rompi rapidamente o ligamento cruzado. O joelho não aguentou o esforço. Em Portugal, acontecia o pior, e aí não bastava jogar não só a 70 por cento das capacidades, mas até a 90. Se nos dói a perna, saltamos alto, se o joelho incha, não aceleramos.»

Mielcarski explica que «depois do meu primeiro ano, chegou ao clube o brasileiro Artur, que era um excelente fisioterapeuta e preparador físico. Ele conseguiu recuperar-me e, a partir daí, as lesões deixaram de ser tão frequentes.»

Uma época dourada do FC Porto


O antigo jogador polaco considera que viveu a «época dourada do FC Porto». «Uma de muitas. No coração do clube estão os adeptos e a cidade, mas o cérebro e a batuta é do presidente Pinto da Costa, foi ele que traçou o caminho e o objetivo.»

Mielcarski destaca que «o FC Porto não é um grande clube à escala europeia, mas já ganhou a Taça dos Campeões Europeus, o Campeonato do Mundo, a Liga Europa duas vezes, a Supertaça Europeia uma vez. Tem mais troféus europeus do que os três grandes gregos - Panathinaikos, Olympiakos e AEK [clube onde também jogou] - juntos. E é mais ou menos o mesmo nível. Não foi por acaso.»

Jogadores ajudaram filho de colega


Antes de chegar ao FC Porto, Mielcarski esteve no Servette, com Oliver Neuville e Sonny Anderson, mas garante que o salto para Portugal foi muito maior. «Pagavam com cheque. Antes de cada jogo, antes do almoço, havia um envelope ao lado do prato de cada jogador, com o seu nome, que continha um cheque de cerca de dois mil dólares por uma vitória no jogo anterior.»

O polaco recorda um episódio comovente: «Uma vez o capitão João Pinto levantou-se e disse: 'A filha de um dos meus colegas de equipa vai ser operada ao coração e proponho que façamos um donativo, mas não há qualquer obrigação. Estou a entregar o meu cheque, cada um deve fazer o que pensa'. Ninguém hesitou um segundo, cada um entregou o seu envelope, e posso garantir que havia alguns jogadores da equipa para os quais essa quantia era significativa.»

Regresso ao Porto em 2022


Já depois de ter saído da seleção da Polónia, onde foi adjunto de Fernando Santos, Mielcarski regressou ao Porto em setembro do ano passado. «Precisava de descansar, desanuviar de tudo isso e o Porto sempre foi e é um dos meus lugares favoritos. Existem locais onde uma pessoa se sente sempre bem.»

O antigo jogador explica que «na minha vida, estive em várias cidades bonitas, não só na Polónia, mas também em Genebra, Atenas ou Salamanca, mas o Porto sempre foi e continua a ser especial para mim. Por muitas razões.»

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  4. «É um prémio meu, mas é também de toda a equipa, dos meus colegas. Eles ajudam-me muito, por isso este prémio é também de todo o grupo. A base deste sucesso é a confiança. Se tiveres confiança, jogas melhor e consegues usufruir melhor do futebol.» - Kanya Fujimoto