Não é necessário recorrer à velha metáfora do extraterrestre que aterra por aqui e se questiona sobre uma série de coisas que caracterizam a Humanidade, os seres humanos e as suas decisões. Basta desafiar cada um de nós a perguntar-se de onde surgiu um problema tão grave quanto o de a FIFA organizar uma prova de clubes nas mesmíssimas datas em que, noutros anos, se disputam Campeonatos do Mundo (também da FIFA) e da Europa (estes da UEFA).
Estou até capaz de pedir desculpa pelo aparente simplismo, mas gostava que me explicassem porque é que Mundiais e Europeus são tão fantásticos (e são!) em junho e julho e um Mundial de Clubes que reúne 32 equipas de cinco continentes surge como um Mefistófeles capaz de destruir os alicerces do futebol mundial.
A distribuição de clubes
Se calhar a expressão «mundial» é exagerada, visto que de facto é da Europa que sopram os ventos diabolizantes sobre a nova competição. Como o meu camarada José Manuel Delgado deixou pistas num recente trabalho publicado em A BOLA, na realidade, o que desagrada às principais ligas europeias é o facto de a distribuição de clubes não ter sido feita exclusivamente a partir do poderio que cada uma delas (são cinco, todos o sabemos) tem no ranking geral. Isso foi tido em conta, mas existe uma lei-travão que limita a representação de cada país a dois clubes.
O argumento do lucro
Uma das principais acusações feitas à FIFA é a de que procura o lucro final sem olhar a meios. É um argumento redutor: ter quatro clubes ingleses, três espanhóis, dois alemães, dois italianos e um francês renderia mais dinheiro do que ter um máximo de dois por país a preencher a quota de 12 clubes europeus. E se calhar até os famigerados direitos TV já estavam vendidos.
A voz dos jogadores
Tem sido também interessante ver a forma como alguns jogadores se têm insurgido contra o Mundial de Clubes, deixando no ar a ameaça de uma greve que seria absolutamente histórica, sobretudo se pensarmos quem, afinal, aufere os maiores ordenados e regalias neste contexto da competição de elite.
Outros jogadores, porém, têm colocado água na fervura. Serão porventura mais conscienciosos? Têm uma melhor noção da realidade do Mundo à sua volta quando comparado com as suas privilegiadíssimas vidas? Se calhar não: talvez apenas não sejam pressionados por instituições fortíssimas a contestar algo que nunca tinham contestado antes, mesmo com Mundiais e Europeus em junho e julho.