Sardinhada em Gelsenkirchen: memórias de uma noite inesquecível

  1. Milhares de adeptos do FC Porto viajaram até Gelsenkirchen, na Alemanha, para a final da Liga dos Campeões em 2004
  2. Restaurante «Vasco da Gama», propriedade de Elisabete e Gil, foi o ponto de encontro desses adeptos
  3. Fizeram uma enorme sardinhada que reuniu cerca de 12 mil pessoas e parou o trânsito da cidade

Recordações de uma noite mágica


A 26 de maio de 2004, milhares de adeptos do FC Porto viajaram até Gelsenkirchen, na Alemanha, para acompanhar a final da Liga dos Campeões da sua equipa. Nesse dia, o restaurante «Vasco da Gama», propriedade de Elisabete Silva e Gil, tornou-se o ponto de encontro desses adeptos, que ali celebraram uma autêntica sardinhada portuguesa que parou o trânsito da cidade alemã.

Vinte anos depois, voltamos a visitar este casal de emigrantes portugueses, que nos recebem com a mesma hospitalidade de sempre. Juntos, recordamos essa noite inesquecível, bem como as mudanças que o restaurante e a sua vida sofreram desde então.

«Posso tirar uma fotografia para enviar ao meu pai?»


Quando mostramos a Elisabete Silva uma fotografia da famosa sardinhada, a emoção toma conta dela. «Ó! Não acredito! É a minha mãe!», exclama, não conseguindo segurar as lágrimas. Para esta portuguesa, emigrante na Alemanha há 50 anos, aquela imagem traz à tona memórias de um dia especial.

«Posso tirar uma fotografia para enviar ao meu pai?», pergunta Elisabete, que recorda com nostalgia esse «São João antecipado». Muito mudou desde essa tarde em que se comeram 500 quilos de sardinha e se bebeu «um incontável número de garrafões de vinho verde de Felgueiras».

De «Gil» a «Vasco da Gama»


Uma das principais mudanças foi o próprio nome do restaurante. «Os clientes referiam-se ao restaurante como o Gil. Costumavam dizer que vinham ou que estavam no Gil. E de vez em quando é preciso mudar», explica Elisabete, natural de Gondomar.

Ela também recorda que, nessa altura, os seus pais, que viviam em Gondomar, viajaram até à Alemanha para assistir ao jogo. «Até comprámos bilhetes de avião aos meus pais que vieram de Gondomar e fomos os três ver o jogo. Desta vez não fomos ao jogo, mas estivemos abertos e servimos bifanas e cachorros», conta.

A ideia da sardinhada


A ideia de fazer uma enorme sardinhada e reunir cerca de 12 mil adeptos do FC Porto nasceu, segundo Gil, «naquela mesa [aponta para o nosso lado esquerdo] às 3h e meia da manhã em conversa com o vereador da cultura de Gelsenkirchen depois de termos bebido muitos copos».

«Ele perguntou: 'E se fechássemos a rua?'. Imediatamente concordámos. A rua, de facto, fechou e tivemos aqui milhares de pessoas», relembra Gil, nascido em Pombal e na Alemanha há 46 anos.

As t-shirts dos jogadores


Gil recorda com orgulho os detalhes dessa memorável noite. «Em 2004 mandei fazer t-shirts para os funcionários com caricaturas dos jogadores do FC Porto. Assei sardinhas todo o dia, mas assim que acabei guardei a t-shirt tal e qual como estava quando a tirei. Nunca mais lhe mexi», sublinha.

Uma dessas t-shirts acabou, de resto, num outro estabelecimento na cidade do Porto. «Não sei onde, mas o meu pai foi a uma taberna no Porto que estava cheia de coisas do FC Porto e falou-lhes da t-shirt. Agora eles têm lá uma», partilha Elisabete, com um orgulhoso sorriso.

Tristeza com a restrição da fan zone


Apesar das boas recordações, o presente traz alguma tristeza para este casal de emigrantes. Desta vez, a autarquia e as autoridades alemães afastaram os adeptos da Seleção do restaurante português de Gelsenkirchen.

«Sempre que a Seleção ou clubes portugueses jogavam em Gelsenkrichen, éramos contactados para uma reunião na Câmara Municipal da cidade. Desta vez, decidiram criar uma fan zone numa outra zona da cidade. A justificação que a polícia apresentou foi que, uma vez que os portugueses vão estar em maioria, vão para uma zona mais próxima do estádio», explica Elisabete, não escondendo a sua desilusão.

Gil não concorda com essa decisão e acusa as autoridades de preconceito. «É completamente mentira. É simples: há uma parte da cidade onde mora a elite e como os portugueses são pacatos e não arranjam confusão, colocaram-nos lá. Por exemplo, os italianos partiram da estação aqui ao lado [jogo contra a Espanha] e correu tudo bem. Não se compreende», protesta.

Elisabete, por seu lado, prefere ter uma visão mais positiva: «Se calhar foi melhor assim. Também já estamos a ficar velhos para isto.»

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