Um confronto milenar
A rivalidade entre Vitória SC e SC Braga é apelidada na gíria popular de «mais velha que a Sé de Braga», e este domingo conhecerá o seu 159º capítulo. Uma razão mais do que suficiente para auscultar o sentimento dos adeptos nas freguesias de Morreira e São Lourenço de Sande, região fronteiriça entre os concelhos de Braga e Guimarães.
Este duelo pode ser encarado como a representação moderna de um atrito quase milenar, com origens na dificuldade dos clérigos vimaranenses em aceitar ordens do Arcebispo bracarense em tempos remotos. Essa ligação ríspida não cessou com o tempo, tendo as motivações políticas do século XIX, com a nomeação da antiga Bracara Augusta como capital de distrito, dado seguimento ao conflito inicial. Esta dinâmica ancestral concentra agora os ingredientes neste dérbi apaixonante e de inigualável orgulho para as gentes do Minho.
A "Rota Sagrada"
A Nacional 101, via comum entre as duas cidades, foi talvez o indicador primário dessas ligações, com graffitis afetos aos clubes espalhados pelas paragens de autocarro locais a indicar uma espécie de «rota sagrada» percorrida pelos fiéis à «Romaria mais importante do ano 2025».
Convivência e rivalidade
No Café Mercadinho São Pedro, na zona limítrofe entre os concelhos, João Proença, o proprietário, revelou que «Tenho clientes vitorianos e clientes bracarenses todos os dias!» e que «Convivem muito bem. Claro que vão sempre haver aquelas conversas mais picadas, mas não tanto como antigamente.» Apesar da preferência pelo Sporting de Braga, por ser «Nasci em Braga, vivo em Braga... vou apoiar quem?», João admitiu que «tudo é possível» quanto ao jogo de domingo, lamentando que «A equipa e os adeptos não sentem segurança... O futebol português este ano está um bocadinho abaixo [do nível] e isso nota-se nas competições europeias.»
Histórias de uma rivalidade
Já Manuel Silva, cliente assíduo do estabelecimento, recordou que «O meu pai fazia o percurso Morreira -Braga no transporte de materiais e a minha falecida mãe carregou muita pedra para o antigo Estádio 1º de Maio.» Outro cliente, com mágoa desde há cinco décadas, contou que «Era sócio desde nascença, mas depois fui para a tropa e eles não perdoaram... Fui para Angola e quando cá cheguei fui ter ao estádio e queriam que eu pagasse as quotas e que mudasse o número do cartão...Nunca mais lá fui. Domingo vejo o jogo pela televisão.»
Um verdadeiro santuário
Já na freguesia vizinha de São Lourenço de Sande, Guimarães, o Café do Bilinho revelou-se um verdadeiro santuário de crenças e artefactos vitorianistas. Com 80 a 90 por cento dos adeptos locais afetos ao Vitória SC, o jogo de domingo não será pretexto para encher o estabelecimento, dada a elevada e habitual afluência que se prevê no Estádio D. Afonso Henriques. Dos restantes 10 por cento de pessoas da região que se estimam serem de outros clubes, Bilinho admitiu a existência de adeptos do SC Braga.
O antigo emigrante radicado em França mostrou um verdadeiro enxoval de cachecóis e camisolas, memórias de Conquistadores e Gverreiros, antes da chegada de Manuel Matos, um indefetível vitoriano de 88 anos. Apesar de afastado dos recintos desde finais dos anos 80, após um incidente com um adepto da Académica, Manuel Matos segue todos os jogos do Vitória e acredita que a sua equipa «Domingo é para fazer o mesmo» que na vitória na 5ª jornada em Braga, lamentando apenas a saída de jogadores importantes. Quanto ao jogo deste domingo, Manuel Matos assegurou ficar satisfeito em qualquer resultado que dê a vitória ao seu Vitória SC sobre o SC Braga.