O adeus de Ricardo Mangas ao Vitória de Guimarães

  1. Escalados pela terceira partida por valores incompreensivelmente baixos este ano civil
  2. O Vitória de Guimarães pagou um milhão de euros ao Boavista por Ricardo Mangas há um ano
  3. O negócio com o Spartak Moscovo é de dois milhões de euros, mais 500 mil euros em bónus
  4. «É apenas uma questão de fazer as contas...»

Paixão e controvérsia no adeus de Ricardo Mangas


O futebol é frequentemente descrito como «a coisa menos importante das coisas mais importantes», e é neste espírito que deve ser visto o negócio da transferência de Ricardo Mangas do Vitória de Guimarães para o Spartak Moscovo. No entanto, para os adeptos fervorosos do Vitória de Guimarães, esta mais recente partida gerou uma acesa discussão, com muitos a questionar a tomada de decisão do clube e os detalhes financeiros da transação.

O Vitória de Guimarães é um clube onde tudo é vivido intensamente pelos adeptos, e as chegadas e, especialmente, as partidas dos jogadores da equipa principal (já que o clube também tem outras modalidades) despertam sempre acesos debates. Há quem acredite que o clube vende mal ou «muito mal», e há quem acredite que as diferentes administrações fazem sempre tudo certo. Consequentemente, a crítica daqueles que discordam é imediatamente elevada à condição de «terrível heresia», onde quase se lamenta a ausência de fogueiras da Inquisição para queimar os hereges que ousam discordar dos dogmas do clube.

O negócio da transferência


É precisamente isto que está a acontecer com a transferência de Ricardo Mangas para o Spartak Moscovo, que está a gerar uma enorme discussão entre os adeptos, tanto em termos do valor envolvido como do excelente momento desportivo da equipa, bem como da incapacidade de contratar um substituto com o mercado fechado, pelo menos sem vasculhar a lista de atletas desempregados.

«Escalados» pela terceira partida por valores incompreensivelmente baixos este ano civil, num núcleo formado pelas despedidas de Jota Silva, André Silva e Ricardo Mangas - os dois últimos com o mercado já encerrado -, muitos adeptos do Vitória de Guimarães estão a tentar compreender plenamente a natureza deste negócio, procurando também entender o que o clube irá ganhar em termos desportivos, financeiros e de imagem.

Impacto na imagem do Vitória de Guimarães


Em termos de imagem, nada de positivo pode ser dito. Fazer negócios com um clube de um país banido das competições desportivas internacionais como sanção pela invasão da Ucrânia, e alvo de numerosas restrições comerciais pela União Europeia, reflete muito mal num emblema que se declara campeão de «Causas» e que até já participou em vários momentos de solidariedade.

Impacto desportivo


Quanto aos ganhos desportivos, é evidente que não há nenhuns. Ricardo Mangas estava a ter um excelente início de temporada, sendo um dos jogadores mais decisivos da equipa, tendo marcado quatro golos em competições europeias. Além disso, estava no radar de Roberto Martinez (embora isso valha o que vale...). A este ritmo, era óbvio que o seu valor iria aumentar ainda mais na Conference League e no campeonato nacional.

A isto, acrescenta-se o facto de não poder ser imediatamente substituído, a não ser por alguém do mercado de desempregados, onde a escolha é muito escassa e qualitativamente duvidosa.

Perante isto, é inevitável que a equipa sofra desportivamente com a sua ausência.

Impacto financeiro


A componente financeira mantém-se, sendo esta que teoricamente explica a sua partida.

Como o Engenheiro António Guterres disse uma vez, perante alguns números de difícil compreensão (é apenas uma questão de fazer as contas...), é fácil entender todas as críticas associadas aos valores desta transferência.

Há um ano, o Vitória de Guimarães pagou um milhão de euros ao Boavista por Ricardo Mangas. Um ano de salários, mais as comissões deste negócio, apontam para mais meio milhão de euros, mais ou menos, em despesas. Assim, Mangas custou aos cofres do Vitória um milhão e meio de euros.

Com um "slate" limpo de valorização do jogador, o Vitória de Guimarães está agora a vender o seu ativo por dois milhões de euros ao Spartak Moscovo, mais 500 mil euros em bónus, que irei discutir mais tarde.

Destes dois milhões, o Boavista tem direito a 400 mil euros, pois detinha 20% dos direitos do jogador. Para o Fundo BDT & MSD, irão 600 mil euros, pois a empresa de serviços financeiros tem direito a 30% do valor líquido das transferências realizadas no mercado de verão, de acordo com as cláusulas de empréstimo que fez ao Vitória de Guimarães, como aconteceu na transferência de Jota Silva.

Como escrevi na altura, é verdade que este montante reduz os passivos, mas resulta de um negócio mal executado com a V Sports, que obrigou ao recurso a este Fundo. Com outras cautelas, este apoio não teria sido necessário.

A todos estes descontos do valor recebido, é ainda necessário acrescentar os valores de intermediação do negócio, que seguramente não serão inferiores a 10%, numa perspetiva otimista.

Em resumo, dos dois milhões de euros do negócio, apenas cerca de 700 mil euros líquidos entrarão nos cofres do clube, ou um pouco mais do que isso.

Balanço do negócio


Considerando o investimento do Vitória de Guimarães em Mangas (valor de aquisição mais salários), parece que um jogador de 25 anos, em plena valorização desportiva, acabou por ser financeiramente prejudicial para o clube.

Se não for um caso único... parece que sim.

Quanto aos bónus, de acordo com o que se lê nos jornais desportivos, o eventual valor adicional será de cerca de 500 mil euros, desde que se cumpram dois pressupostos...

O primeiro é o triunfo do Spartak no campeonato russo, e o outro é o tempo de jogo do atleta, que terá de cumprir pelo menos 45 minutos em 50% dos jogos oficiais.

O segundo não parece difícil de cumprir, mas quanto ao primeiro parâmetro, vale a pena lembrar que o Spartak só foi campeão duas vezes neste século, em 2001 e 2017. O Zenit venceu os últimos seis títulos consecutivos, o que pressupõe uma clara hegemonia no futebol russo.

Há também uma percentagem de 15% sobre os ganhos de capital de uma eventual futura venda, o que parece verdadeiramente utópico, dado que estamos a falar de um jogador que acaba de sair de um clube que está em competições europeias, o principal palco para aumentar o valor dos jogadores, para ir para um campeonato periférico, num país banido das competições internacionais.

Justificações questionáveis


Uma nota final para dizer o seguinte.

Certamente que foi sugerido, inspirado naqueles que querem justificar este negócio a todo o custo, que o dinheiro obtido com a saída de Mangas permite ao clube reter outros jogadores. Dada os números apresentados, é difícil entender como, mas o futuro relatório financeiro da SAD (Sociedade Anónima Desportiva) certamente explicará. Ou não.

A outra "explicação" induzida na opinião pública é que foi o jogador que forçou a saída.

Isto é inaceitável.

Um jogador que tem um contrato válido, livremente assinado pelas partes, em que o empregador está normalmente a cumprir as suas obrigações, só tem uma forma de forçar uma saída: para que surja um clube que pague a cláusula de rescisão. Caso contrário, devem cumprir o contrato que assinaram, se o clube que representam não quiser vendê-los a preço de saldo.

Em resumo, como aconteceu com as saídas de André Silva e, mais tarde, Jota Silva, esta transferência de Ricardo Mangas é também uma questão que tem (e continuará a ter) provocado um amplo debate na base de adeptos do Vitória de Guimarães. É uma questão que, de facto, tem «pano para mangas»!

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