Luís Filipe Vieira, ex-presidente do Benfica, durante o julgamento de Rui Pinto, criador do Football Leaks, abordou o conturbado período que viveu no clube. O antigo dirigente revelou um ambiente de grande instabilidade interna e a perda de um negócio milionário devido às divulgações.
As revelações do Football Leaks, segundo Vieira, criaram um clima de desconfiança generalizada e desacreditaram o Benfica no mercado internacional, levando à frustração de importantes oportunidades de expansão.
Desespero e Desconfiança no Seixal
Vieira descreveu o clima interno no clube como desesperante: “Chegou a uma altura que era mesmo desesperante e que estava desacreditado como benfiquista. Não conseguia dormir nada. Para quem viveu o Benfica como vivi, era um ambiente terrível, com muita desconfiança entre todos nós”.
O ex-presidente detalhou como a desconfiança se instalou no Seixal: “Até pensavam que éramos nós a devassar esses dados, não éramos nós. Os primeiros tempos foram difíceis, sobretudo para dizer às pessoas que não fomos nós. Foi terrível, eu não conseguia estar lá mais tempo. Chegou a um ponto que era impossível, porque só se falava disso. Tive de me ausentar para o Seixal, em que praticamente só se falava de futebol. Suspeitávamos uns dos outros e ninguém podia estar satisfeito. As pessoas começaram a ter pavor e com receio de poder aparecer coisas suas cá fora”, salientou.
Prejuízos Milionários na China
Vieira não tem dúvidas sobre o maior prejuízo causado pelas divulgações: “Era inexplicável e toda a gente ficou bastante perturbada. Ficámos desacreditados no mercado. Tenho a certeza de que um negócio relacionado com a expansão do Benfica na China foi frustrado em função da divulgação de informações”.
O negócio falhado, segundo Vieira, envolvia valores consideráveis: “à volta de 50 milhões de dólares”, e estava relacionado com uma parceria no desenvolvimento de escolas de formação do clube na China, e “implicava tudo o que estivesse relacionado com a marca Benfica”.
Críticas ao Impacto das Divulgações
Luís Filipe Vieira não poupou críticas ao impacto das divulgações: “O Benfica cresceu muito ao longo dos anos e estava a ganhar muito no futebol. Não tenho dúvidas nenhumas de que foi para desacreditar o Benfica e travar o clube. Em termos empresariais, fomos bastante prejudicados. Em termos desportivos, basta ver o condicionamento que fizeram aos árbitros. Insinuou-se muito e há emails que foram completamente distorcidos”, ressalvou o presidente dos lisboetas, entre 2003 e 2021.
José Eduardo Moniz, antigo vice-presidente do Benfica, corroborou os danos causados: “O acesso ilegal à informação era objeto de tratamento que denegria a marca Benfica, a instituição e seus dirigentes. Entrava-se num esquema de especulação que pretendia criar no público a noção de que o Benfica era semelhante a um 'polvo' que controlava e conseguia ganhar jogos e competições à conta da manipulação das mesmas”, frisou.